Artigo: Lucas Tonaco*
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A União Europeia (UE) enfrenta uma série de desafios em relação à segurança hídrica devido à sua diversidade geográfica, variações climáticas e às demandas crescentes por água. A gestão eficiente dos recursos hídricos tornou-se uma prioridade para a UE, dada a importância estratégica e econômica da água. Nesta análise, exploraremos os conflitos e desafios relacionados à água na UE, com foco nas questões políticas e geopolíticas. A UE adotou uma abordagem abrangente para a gestão da água, baseada em uma série de políticas e instrumentos. A Diretiva-Quadro da Água, estabelecida em 2000, é um dos pilares da política de água da UE, buscando alcançar um bom estado das águas em toda a União até 2027. Além disso, a Política Agrícola Comum (PAC) e a Política de Coesão também desempenham um papel significativo na gestão dos recursos hídricos na UE.A gestão da água na UE enfrenta diversos conflitos e desafios políticos. Um exemplo notável é a competição pelo uso da água entre diferentes setores, como agricultura, indústria e consumo doméstico. Essa competição gera tensões e demanda um equilíbrio adequado entre as necessidades de cada setor. Além disso, a gestão transfronteiriça da água também é uma fonte potencial de conflito na UE. A existência de bacias hidrográficas compartilhadas entre países membros requer uma coordenação eficiente e a negociação de acordos para garantir um uso equitativo e sustentável dos recursos hídricos.A geopolítica desempenha um papel significativo na gestão da água na UE, especialmente no que diz respeito às relações com países vizinhos e à segurança hídrica. A escassez de água em determinadas regiões e a dependência de recursos hídricos externos podem afetar as dinâmicas geopolíticas da UE.

Um estudo acadêmico conduzido por Jones et al. (2018), intitulado “Water Security and Geopolitics in the European Union: Potential Implications for International Relations,” analisa os desafios geopolíticos enfrentados pela UE em relação à água e discute as implicações para as relações internacionais.

Relatórios e dados fornecem uma base sólida para a análise dos conflitos e desafios relacionados à água na UE. O relatório “European Waters: Assessment of Status and Pressures 2018,” publicado pela Agência Europeia do Ambiente, fornece uma visão abrangente da qualidade das águas europeias, identificando pressões e ameaças ao meio ambiente aquático.Também, dados estatísticos sobre consumo de água, uso agrícola e industrial, disponibilidade hídrica e outros indicadores são disponibilizados por instituições como o Eurostat e a Agência Europeia do Ambiente, fornecendo informações valiosas para a compreensão dos desafios e conflitos relacionados à água na UE.

Diversos estudos acadêmicos abordam especificamente os conflitos e desafios relacionados à água na União Europeia, fornecendo uma base teórica e empírica para entender essas questões. Um exemplo é o estudo de Swyngedouw (2015), intitulado “Liquid Power: Contested Hydro-Modernities in Twentieth-Century Spain”, que explora os conflitos políticos e sociais relacionados à água na Espanha, analisando as tensões entre o desenvolvimento hidroelétrico e as demandas ambientais. Outro estudo relevante é o de Boelens et al. (2016), intitulado “Water Justice and the Politics of Water Rights and Regulation in the Andes”, que examina os conflitos em torno dos direitos de água nos países andinos, incluindo aspectos políticos, jurídicos e socioculturais.A gestão da água na União Europeia também envolve questões étnicas e antropológicas, especialmente em áreas onde diferentes comunidades étnicas têm acesso e uso tradicional da água. A proteção dos direitos das comunidades indígenas e minoritárias em relação à água é uma preocupação importante.

Uma pesquisa realizada por Baldwin (2017), intitulado “Water Cultures and Indigenous Communities in Europe”, que explora as diferentes percepções culturais da água e os desafios enfrentados pelas comunidades indígenas na Europa em relação ao acesso e uso da água. Os conflitos econômicos também desempenham um papel significativo na gestão da água na União Europeia. A competição pelo uso da água entre setores econômicos, como agricultura e indústria, pode gerar tensões e desafios para garantir um equilíbrio adequado.

Referências nesta perspectiva, são de Molle et al. (2009), intitulado “River-basin Planning and Management: The Social Life of a Concept”, aborda as questões econômicas e políticas envolvidas no planejamento e gestão de bacias hidrográficas na Europa, destacando os desafios da integração de interesses econômicos divergentes.

A política da água na União Europeia é influenciada por considerações geopolíticas, especialmente no que diz respeito às relações com países vizinhos e à segurança hídrica. A cooperação transfronteiriça e a negociação de acordos são aspectos-chave para a gestão sustentável dos recursos hídricos.Um estudo acadêmico relevante é o de Zeitoun et al. (2016), intitulado “Hydro-Hegemony: A Framework for Analyzing Transboundary Water Conflicts”, que propõe um quadro conceitual para entender os conflitos transfronteiriços relacionados à água e examina a geopolítica da água em várias regiões, incluindo a União Europeia.

Lucas Tonaco – secretário de Comunicação da FNU, dirigente do Sindágua-MG, acadêmico em Antropologia Social e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

 

 

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