O presidente Lázaro de Godoy Neto revelou ainda que o lucro líquido projetado da empresa para 2022 ultrapassará R$ 260 milhões

O Sindágua-MS (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgoto de Mato Grosso do Sul) denunciou ao Diário MS News que a empresa de saneamento Águas Guariroba, que explora o serviço de água e esgoto em Campo Grande (MS), tem lucros bilionários por cobrar a tarifa mais cara entre as 27 capitais brasileiras.

De acordo com o presidente Lázaro de Godoy Neto, em seis anos, a Águas Guariroba já lucrou R$ 1,17 bilhão, o que representa algo em torno de R$ 195 milhões por ano. Além disso, conforme ele, a empresa paga salários astronômicos aos executivos às custas do sacrifício de seus empregados, da redução de despesas, de crimes ambientais e tarifas exorbitantes.

Ele recorda que os serviços públicos de saneamento da Capital foram privatizados no ano de 2001 e o processo licitatório teve como vencedor o consórcio encabeçado pela empresa Águas de Barcelona – AGBAR. Empresa venceu o processo com compromissos estabelecidos em contrato de ampliar a cobertura de esgotamento sanitário.

Além disso, a Águas Guariroba também teria de fazer melhorias nos sistemas de abastecimento de água e investimentos na recuperação e preservação das bacias dos córregos Lajeado e Guariroba, que na época respondiam por 20% e 60% do abastecimento da Capital. “Em poucos anos, ficou claro que o interesse dos europeus aqui no solo sul-mato-grossense não era de trazer para o Estado a tecnologia, tampouco a qualidade dos serviços públicos europeus”, ressaltou Lázaro de Godoy.

Na verdade, conforme ele, se tratava apenas de um negócio extremamente lucrativo às custas da nossa população. “Com reajustes tarifários constantes, dificuldade de acesso a população mais vulnerável, falta de políticas e de ações ambientais nas bacias hidrográficas de nossos mananciais, falta de investimentos na ampliação dos sistemas de esgotamento sanitário, etc”, lamentou.

Segundo o presidente do Sindágua-MS, os lucros obtidos eram levados para a sua matriz europeia, bem como, utilizados na ampliação de suas concessões na América Latina. “O não cumprimento das metas contratuais forçaram em 2005 a AGBAR e seus sócios a venderem a sua participação acionária ao Grupos Bertin e Equipav. Passados 4 anos, o Grupo Bertin vendeu sua participação a EQUIPAV, acionista majoritário da holding AEGEA. Até a presente data, a Águas Guariroba que faz parte da holding é a concessionária dos serviços de saneamento em Campo Grande”, denunciou.

A partir do processo de privatização, o saneamento no Estado virou negócio e deixou de ser serviço público essencial e acessível a toda a população. “Assim como o Grupo AGBAR, o grupo AEGEA trafega nas mesmas vias, onde para ser um bom negócio para os grupos de acionistas; aumentarem os valores de suas ações nas bolsas; ampliarem suas concessões pelo país, precisam aumentar seus lucros e com isso também remunerar extraordinariamente seus executivos em detrimento aos seus fornecedores, colaboradores e empregados”, assegurou Lázaro de Godoy.

Lucros milionários

Os lucros da empresa Águas Guariroba vêm em crescimento vertiginoso nos últimos seis anos, na mesma proporção em que são reajustadas as suas tarifas com todo aval da AGEREG (Agência de Regulação dos Serviços Públicos Delegados de Campo Grande). “Entre reajustes e revisões tarifárias concedidas pela AGEREG no período de 2017 a 2022, temos acumulado 46,25%”, revelou.

Além dos reajustes tarifários, foi concedida uma benesse pelo executivo municipal e convalidado pela AGEREG, denominada tarifa fixa, em que a tarifa residencial é cobrada de cada unidade habitacional o valor extra de R$ 15,98, no comércio R$ 22,83, na indústria R$ 35,88 e para o Poder Público R$ 76,16. “Somente essa tarifa fixa equivale a um extra de 10% do faturamento mensal da Águas Guariroba”, detalhou o presidente do Sindágua-MS.

Para Lázaro de Godoy, trata-se de um negócio com alta lucratividade esse dos serviços de saneamento em Campo Grande. “Enquanto o INPC nesse período foi de 32,13% a empresa ganhou 46,25% de reajuste mais a tarifa fixa e, como isso a população de Campo Grande paga por 20 m³ de água mais esgoto o total de R$ 252,05, em São Paulo (SP) se paga R$ 168,04, em Salvador (BA) se paga R$ 240,64, em Brasília (DF) se paga R$ 191,03,a Sanesul cobra R$ 181,85 e Porto Alegre (RS) cobra R$ 105,40”, exemplificou.

Ele reforçou que é extremamente assustador quando se analisa esses números e verifica o que está por trás dessa alta lucratividade em cima de um serviço público essencial à vida e à saúde pública. “É o descaso para com o consumidor, com o meio ambiente, com os mananciais de abastecimento público e com os órgãos de fiscalização”, lamentou.

De acordo com o presidente do Sindágua-MS, basta ver que hoje o manancial do Guariroba responde por apenas 38% do abastecimento, Lajeado por 16% e o restante por 105% dos poços tubulares profundos. “Transformaram Campo Grande em um paliteiro de poços ao invés de investir nos mananciais superficiais. Tudo isso atrelado ainda a falta de compromisso ambiental com o desligamento de estações de bombeamento de esgotos, para reduzir custos com energia, e esses efluentes lançados em nossos córregos urbanos. Fato notório em nossa Capital e amplamente denunciado por vereadores, pela população e pelo MPE (Ministério Público Estadual)”, pontuou.

Segundo Lázaro de Godoy, o que se vê nessa política obsessiva de “lucro a todo custo” dentro da Águas Guariroba é que, interesses de poucos se sobrepõem aos interesses da sociedade campo-grandense. “Vejamos então os números referentes ao Lucro Líquido dessa empresa nos últimos seis anos: em 2017 foram R$ 173,1 milhões, em 2018 mais 148,0 milhões, em 2019 outros R$ 157,3 milhões, em 2020 mais R$ 208,67 milhões, em 2021 outros R$ 227,13 milhões e nos primeiros nove meses de 2022 o lucro líquido estava na ordem de R$ 198,2 milhões”, elencou.

Para o presidente do Sindágua-MS, temos, portanto, o “simplório” lucro acumulado nesse período de R$ 1,112 bilhão ao grupo AEGEA. “Tudo às custas da população campo-grandense, do descaso com nossos mananciais, com o meio ambiente e, sobretudo com os seus empregados e colaboradores. Através do acesso a informações públicas obtidas pelo ONDAS (Observatório Nacional de Direitos a Água e ao Saneamento), nas áreas dos sites destinados aos investidores, obtiveram dados oficiais junto a CVM – Comissão de Valores Mobiliários, que demonstram que os lucros astronômicos acima apresentados, além de ser um excelente negócio para os acionistas é um ótimo negócio aos executivos da Águas Guariroba”, apontou.

A AEGEA é uma holding que controla as concessionárias locais, entre elas a Águas Guariroba. Sendo que cada concessionária tem seu quadro de diretores também remunerados com valores estratosféricos em um país onde 33% das famílias estão passando fome. Para ilustrar esse absurdo, conforme divulgado pelo ONDAS, a Águas Guariroba em 2021 remunerou cada um dos seus diretores com um valor médio mensal de R$ 107 mil mensais. Para o ano de 2022 o Conselho da holding AEGEA aprovou a título de remuneração aos três diretores da Águas Guariroba o montante de R$ 4 milhões entre salários, benefícios e gratificação, ou seja, cerca de R$ 1,33 milhão no ano de 2022 para cada um.

Para fins de comparação, a Sanesul, estatal controlada pelo governo de Mato Grosso do Sul, com faturamento anual equivalente ao da Águas Guariroba e atendendo ao dobro da população, remunerou seus diretores com R$ 26 mil médios mensais brutos em 2021. “Equivalente a 25% da farra remuneratória da Águas Guariroba. Enquanto assistimos ao longo dos últimos seis anos o crescimento vertiginoso de lucros e dos salários dos executivos, no contraponto temos quase 800 empregados dessa empresa que sequer receberam a reposição do INPC, que é o índice que visa apenas recompor o poder de compra do trabalhador”, pontuou o presidente do Sindágua-MS.

Ele acrescentou que os salários desses colaboradores nesse período de seis anos foram reajustados em 29,45%, as tarifas em 46,25% + 10% de tarifa fixa e seus diretores somente em 2022 tiveram sua remuneração reajustada em mais de 17%”, explicou Lázaro de Godoy. “Com a concessão para grupos privados, a lógica de operação dos serviços públicos muda completamente. Os ativos não pertencem mais ao público. Ela passa a ter que gerar lucros e dividendos que são distribuídos para acionistas e remunerar de forma exorbitante seus executivos. Quem paga essa conta, somos todos nós”, alertou.

Lázaro de Godoy completou que, apesar dos lucros bilionários, nos acordos de PLR a empresa tenta impor condições em que alpenas os gerentes e diretores podem receber até cinco salários (gerentes) e até 10 salários (diretores). “Em 2022, a empresa aprovou em assembleia no dia 28 de abril a remuneração de seus diretores em até R$ 4 milhões, lembrando que aqui são três diretores apenas. Já para os empregados assalariados que são expostos ao sol, nas valas, nos sistemas de tratamento, apenas um salário”, finalizou.

Fonte: DiárioMSNews

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