Na última sexta feira (28/05), entre 11h e 11:30h da manhã, ocorreu uma falha na linha de transmissão de uma das maiores usinas hidrelétricas brasileiras, Belo Monte, no rio Xingu (PA), que provocou o desligamento de sete turbinas da usina. O acidente tirou 4 mil megawatts do Sistema Interligado Nacional, deixando alguns municípios temporariamente sem energia elétrica. As regiões mais afetadas foram o Norte, o Nordeste e o Centro-Oeste. Os Estados de Sergipe, Amapá e Mato Grosso do Sul foram os que mais demoraram a restabelecer o abastecimento.

 

A falha ocorreu cerca de seis meses depois do apagão do Amapá, em novembro de 2020, e também em um momento crítico para o setor elétrico por conta da maior seca dos últimos 90 anos. Os reservatórios das hidrelétricas do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, responsáveis por 70% da geração hídrica do País, estão em declínio, o que pode afetar o abastecimento se grandes cargas forem retiradas do sistema.

 

No fatídico apagão do Amapá, o estado ficou sem energia elétrica em várias cidades por cinco dias e com racionamento sério por 22 dias. E na ocasião, o apagão ocorreu por uma falha em um transformador da empresa privada LMTE Isolux, sendo que o equipamento reserva já se encontrava fora de operação há meses. O restabelecimento da segurança energética do Amapá foi realizado pela estatal Eletrobras Eletronorte, tanto no fornecimento de um novo transformador, quanto na cessão de mão de obra de excelência no setor elétrico brasileiro.

Agora novamente ocorreu uma falha de responsabilidade da empresa privada BMTE (controlada pela chinesa State Grid) e por pouco não tivemos um apagão de grandes proporções em alguns estados brasileiros. A equipe técnica de empregados da estatal Eletrobras Furnas teve atuação ágil para o pronto restabelecimento da normalidade, com reconhecimento e agradecimento formal do Operador Nacional do Sistema (ONS).

Os dois casos em seis meses repetem um fato sintomático no setor elétrico brasileiro: falhas estruturais de empresas privadas colocam em risco a segurança energética de estados da federação e o restabelecimento da normalidade tem sido prontamente realizado por subsidiárias da estatal Eletrobras.

Chama a atenção que mesmo nesse contexto, o governo federal insista sistematicamente na privatização da Eletrobras. Tramita no Senado a MP1031/21 que autoriza e modela a privatização da Eletrobras. Os episódios relatados podem ser agravados pela maior crise hídrica dos últimos 90 anos. Insistir na privatização da Eletrobras em um cenário como esse de crise aguda é de enorme irresponsabilidade com o futuro do Brasil. Todos aqueles que insistirem em tocar esse processo adiante serão lembrados a cada desabastecimento de energia e a cada aumento da conta de luz. O Brasil não vai esquecer.

Ou interrompe-se imediatamente o processo de privatização da Eletrobras ou as consequências serão perversas para as famílias brasileiras e todos os setores produtivos.