Artigo: Lucas Tonaco*
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“Facts remain robust only when they are supported by a common culture, by institutions that can be trusted, by a more or less decent public life, by more or less reliable media”. (Os fatos só permanecem robustos quando são apoiados por uma cultura comum, por instituições confiáveis, por uma vida pública mais ou menos decente, por meios de comunicação mais ou menos confiáveis) – Bruno Latour, the Post-Truth Philosopher, “Mounts a Defense of Science”, New York Times (2018)

A água, esse recurso precioso e essencial para a vida, tem sido reconhecida cada vez mais como um elemento estratégico de importância global, tanto é comum na doxa – em qualquer esquina ou mesmo nos mais centrais debates, o velho truísmo: que a humanidade “guerreará por água um dia no futuro” – esquecendo que no passado e mesmo no presente, isso já acontece – dado o fato que além da essencialidade na composição de nosso próprios corpos (mais de 70%), sua presença ou escassez desempenharem um papel crucial nas nossas culturas, nos desenvolvimento socioeconômico, na segurança alimentar, na estabilidade política e na preservação do meio ambiente enquanto meio existencial. Apesar de sua essencialidade, como citado anteriormente, o mundo enfrenta atualmente uma série de desafios relacionados à água, incluindo disputas pela sua posse, uso e controle. Esses conflitos podem ter impactos extremamente expressivos em níveis locais, regionais e até globais, o que leva em determinada e relevante preocupação central para os serviços de inteligência de Estado em todo o mundo, uma vez que qualquer tema sensível é objeto de trabalho de tais serviços, uma vez que são os olhos, os ouvidos e toda percepção cognitiva  do Estado, muitas vezes e não raro, chegando a ser inclusive o cérebro deste, para completar a metáfora – cérebro que inclusive compreende e tenta projetar não só o passado e presente, mas também o futuro.

A compreensão da importância estratégica da água remonta a séculos passados. Desde tempos remotos, as civilizações reconheceram a necessidade de controlar os recursos hídricos para garantir sua sobrevivência e prosperidade. O filósofo grego Heráclito afirmava que “a água é a substância primordial de todas as coisas”, tornando assim importante sua natureza fundamental e sua influência na vida em todas as suas formas, quase que mitologicamente, como tal civilização é lembrado, hoje, sabemos mais: a visão contemporânea da água como um recurso estratégico vai além de suas propriedades físicas e adentra a esfera política e socioeconômica.

Contemporaneamente, a escassez de água e as disputas por sua posse estão aumentando em todo o mundo, vejamos como fonte, um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) que alerta que até 2050 quase metade da população mundial estará vivendo em áreas com estresse hídrico significativo. Essa escassez pode levar a tensões sociais, políticas e econômicas, bem como a conflitos e instabilidades. Não bastasse as projeções de conflitos vindouros, é evidente que a falta de acesso à água potável e saneamento básico afetam desproporcionalmente as comunidades mais vulneráveis, exacerbando as desigualdades existentes, deixando o conflito com escalas múltiplas e multifacetado pois as crescentes ameaças globais relacionadas à escassez e às disputas pela água são impulsionadas por uma série de fatores complexos.

Fatores como questões demográficas como o rápido crescimento populacional, migratórios no espaço geográfico como urbanização acelerada e fenômenos como  as mudanças climáticas e a degradação ambiental são alguns dos principais impulsionadores dessa situação preocupante e que deixam incerta a compreensão humana sobre a disponibilidade, destinação, tratamento ou controle substância química vital, fazendo com que a competição por recursos hídricos entre setores do habitus humano  como agricultura, indústria e abastecimento doméstico também sejam um fator importante a considerar, afinal, na complexidade e na interdependência sistêmica da qual a humanidade se inseriu, se torna indissociável pensar em causos ou fenômenos isolados ou solúveis em si, e esses desafios interligados exigem uma abordagem holística e multidisciplinar para a gestão e a segurança hídrica.

Nessas circunstâncias, os serviços de inteligência de Estado desempenham um papel fundamental na compreensão e na mitigação dos conflitos relacionados à água. A obtenção de informações, a análise de dados e a avaliação de riscos são elementos essenciais para desenvolver uma compreensão abrangente desses desafios e informar a tomada de decisões políticas que passam a ser cada vez mais difíceis, na medida em que sua extensão são amplificadas em cadeias de eventos e consequências que passam a considerar questões difusas a ponto de serem além da compreensão reduzida no espaço ou no tempo atuais – afinal, hoje o delay entre decisão é menor e a necessidade de assertividade e precisão são elevadas em potências gigantescas devido a tecnologia, sofisticação de análises ou até mesmo o número de pessoas afetadas, entre outros fatores.

Tratando de tal questão, a água, a colaboração entre os serviços de inteligência, órgãos governamentais, instituições acadêmicas e organizações internacionais é fundamental para enfrentar de maneira eficaz às ameaças relacionadas não só o seu controle ou escassez, mas também, com relação a projeções em um cenário caótico de mudanças climáticas ou cadeias complexas de decisão.No decorrer deste livro, exploraremos a maneira como diferentes instituições de Estado ao redor do mundo abordam as questões ou podem abordar dos conflitos da água. Faremos um expositivo de suas estratégias, políticas e ferramentas utilizadas, em alguns serviços de inteligência, inclusive em perspectiva de foco especial na Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) e seu papel atual na proteção dos recursos hídricos do Brasil, como necessário questões como conflitos da água, bem como questões, políticas, geopolíticas, legais, econômicas, militares, climáticas, tecnológicas, de dados, em relatórios, e de informações que moldam esse cenário globalmente.

A água como recurso estratégico e seus impactos globais

A água desempenha um papel multifacetado na sociedade moderna, indo além de suas necessidades básicas de sobrevivência. É um recurso essencial para a produção de alimentos, energia, indústria e transporte, sendo vital para o funcionamento das economias nacionais e globais. A sua disponibilidade adequada e segura é fundamental para garantir a estabilidade e o desenvolvimento sustentável das nações.No entanto, a água não é um recurso infinito. A sua distribuição geográfica desigual, juntamente com a crescente demanda populacional e industrial, tem contribuído para a sua escassez em várias partes do mundo. Essa escassez é agravada pelas mudanças climáticas, que afetam a disponibilidade e a qualidade dos recursos hídricos, resultando em secas prolongadas, inundações devastadoras e eventos climáticos extremos. Na análise da água como um “recurso”, temos portanto inserção de uma das teorias mais adequadas a lidar com determinada questão: a teoria da guerra de recursos,  ou também conhecida como a teoria do conflito por recursos, no cerne de tal teoria, advém a ideia de que os recursos naturais, por óbvio, incluindo a água, podem se tornar fontes de tensão e conflito entre estados. Para inserirmos o debate referente, recorremos então a um dos que se filiam a tal teoria, Thomas F. Homer-Dixon, cientista político e autor do livro “Environmental Scarcity and Global Security” (Escassez Ambiental e Segurança Global) – passamos a citação de forma objetiva:

“À medida que as pressões da escassez hídrica aumentam, as nações podem ficar cada vez mais dispostas a recorrer à força para garantir o acesso a essa fonte vital de sobrevivência. Conflitos em torno da água podem ser um catalisador para a instabilidade regional e global, desestabilizando governos, alimentando tensões étnicas e contribuindo para a migração em massa” (Homer-Dixon, 1994).

Conforme já introduzido: as consequências da escassez de água são vastas e abrangentes. Indeterminadamente,  elas vão desde a redução da produção agrícola e do acesso à água potável para consumo humano direto podendo desencadear até a instabilidade política e os conflitos regionais, tornando-se, globais. Em um contexto de recursos em disputa falta de água pode levar a tensões entre países que compartilham recursos hídricos transfronteiriços, resultando em questões diplomáticas, restrições comerciais e até mesmo conflitos armados.Fossemos inicialmente citar um exemplo emblemático dessas disputas é o caso do Rio Nilo, que atravessa vários países do continente africano, os países ribeirinhos dependem do rio para suprir suas necessidades de água, irrigação e geração de energia . Os conflitos e divergências em relação ao uso dos recursos hídricos do Nilo têm gerado tensões geopolíticas e desafios para a cooperação regional, exigindo esforços de inteligência para antecipar e mediar possíveis conflitos e sua escalada e nesse sentido, os serviços de inteligência de Estado desempenham um papel fundamental na compreensão desses desafios relacionados. Eles monitoram e analisam as tendências hidrológicas, os padrões de uso da água, os movimentos populacionais, as políticas governamentais, incidentes de engenharia diretos como obras ou mesmo catástrofes naturais ou causada por humanos, isso como apenas breves exemplos entre outros fatores relevantes. Dados obtidos pelos serviços de inteligência, portanto transformados após análise em informações, que por vez são essenciais para além da decisão também para a formulação de acordos diplomáticas, de cooperação, dispositivos legais – como leis, normas e resoluções – políticas hídricas, prevenção  direta de crises, políticas industriais, de sustentabilidade, de urbanidade ou mesmo de temas sensíveis como recursos estratégicos em termos econômicos ou militares.

Também, uma compreensão maior sobre as ferramentas e métodos de nossos tempos, perpassam a pensar sobre o modo de obtenção de informações, análises, simulações ou intervenções, então, as tecnologias de monitoramento remoto, como sensoriamento remoto e sistemas de informações geográficas (GIS), também têm se mostrado ferramentas valiosas para a coleta e análise de dados sobre recursos hídricos. , mais recentemente, nas últimas décadas, graças aos avanços nas tecnologias e hardwares de processamento e armazenamento, bem como a escalabilidade, armazenamento e velocidade de tráfego de  informação, bem como avanços nos algoritmos, a inteligência artificial e a análise de big data podem ser utilizadas para identificar padrões e tendências, fornecendo insights mais precisos sobre a disponibilidade, a qualidade e o uso da água em diferentes regiões do mundo.

Se no plano das instituições, das metodologias e das tecnologias há avanços significativos, conclui-se que o desafio aumenta na medida da importância da proteção dos recursos hídricos (e sua disputa ou escassez) levando a resolução pacífica dos conflitos relacionados à água exigirem uma abordagem multidimensional e colaborativa, sendo então o cerne, importante ou mesmo ontológico dessa abordagem, os serviços de inteligência de Estado, que passam a ter o papel de conectar diferentes atores, incluindo governos, organizações internacionais, instituições acadêmicas e sociedade civil, para promoverem além da obtenção e análise o compartilhamento de informações, também a diplomacia e a implementação de medidas sustentáveis para a gestão dos recursos hídricos enquanto recursos neste prisma.

Conflitos da água: breve introdução ao contexto geopolítico

Os conflitos relacionados à água têm uma longa história que remonta a muitos séculos. Desde as primeiras civilizações, a água tem sido objeto de disputas e guerras. Karen Rhea Nemet-Nejat descreve em “Daily Life in Ancient Mesopotamia” (Vida Diária na Antiga Mesopotâmia) o trecho referente a disputa: “Na antiga Mesopotâmia, a disputa pela água era uma questão central que influenciava a política, a economia e a sociedade como um todo. Os rios Tigre e Eufrates eram considerados não apenas fontes de vida e sustento, mas também de poder e prestígio. A posse e o controle desses recursos hídricos vitais eram frequentemente motivo de conflito entre as cidades-estado mesopotâmicas.” (Nemet-Nejat, 1998).

Com o passar dos séculos, a questão não foi resolvida e em vários pontos agravadas, afinal, a vinda do alastramento do fenômeno humano pulverizado ao longo de territórios geográficos, o aumento populacional e o alastramento das diversidades étnicas e culturais se adensam e intensificaram. Ao longo dos anos, as disputas pela água evoluíram e adquiriram novas dimensões, moldadas pelas mudanças políticas, tecnológicas e recentemente, a preocupação com questões anteriormente nem imaginadas pela humanidade, como alterações climáticas.

No século XX, vimos uma intensificação desses conflitos, impulsionada pelo crescimento populacional, o desenvolvimento industrial e os avanços na agricultura.Um dos exemplos mais notórios de conflito hídrico ocorreu no Oriente Médio, com a disputa entre Israel e seus vizinhos árabes pelo controle das águas do Rio Jordão. A gestão compartilhada dos recursos hídricos tornou-se um ponto central das negociações de paz na região, destacando a importância estratégica da água como um fator que pode tanto promover a cooperação quanto desencadear conflitos. Onde portanto, além de ser um conflito por recursos – como citado na teoria da guerra por recursos, temos também inserido um componente de conflito étnic, transformando a água uma espécie de arma, weaponizing water vide o controle de sua escassez e transformando em um ativo de controle também diplomático, militar e em um contexto regional, geopolítico dinamicamente.

“O conflito hídrico no Oriente Médio, em particular a disputa entre Israel e seus vizinhos árabes pelo controle das águas do Rio Jordão, exemplifica a interseção entre conflitos étnicos e recursos naturais. A gestão e distribuição equitativa da água tornaram-se uma questão crucial nas negociações de paz na região, refletindo a dinâmica geopolítica complexa e as tensões étnicas existentes. Nesse contexto, a água não apenas se torna um recurso estratégico disputado, mas também um componente essencial da identidade e da segurança étnica dos diferentes atores envolvidos” (Swain, 2002)

Como inicialmente na cartografia do poder o paisagismo naturalístico e questões topográficas e hidrográficas serviram de delimitadores fronteiriços como montanhas e rios, ao longo da história, não foi diferente e portanto quando se trata da geopolítico atual, as questões relacionadas à água ganharam ainda mais relevância pois a competição por recursos hídricos transfronteiriços, como rios e aquíferos compartilhados, tem gerado tensões entre países e regiões, sendo então as disputas pelo acesso à água e seu uso adequado tornaram-se componentes-chave das relações internacionais, com implicações para a segurança, a diplomacia e o desenvolvimento sustentável no caso do gerenciamento de recursos de uso compartilhado.

Se tratando de geopolíticas, há  fatores que entram nessa complexidade dos conflitos da água, afinal, os Estados nacionais se configuram por meio do Direito tanto internamente quanto externamente, passando então por considerações legais, como tratados e acordos internacionais como um instrumento normativo positivado tendo um papel importante na regulação do uso dos recursos hídricos e na prevenção de conflitos.Na geopolítica, outra dimensão importante é a econômica, que também é crucial, uma vez que a água é um recurso essencial para a produção e o comércio de bens e serviços em nível global, e hoje com cadeias globais de produção, logística e consumo multiconectadas, esse controle ou o controle do supply chain como ativo, é extremamente importante. Seja no Heartland de Mackinder, onde o controle da Europa Oriental seria crucial ou seja no Rimland de Spykman, as fronteiras e fluxo comercial passam por mares e além: de rios como fronteiras nacionais, meios de locomoção internacionais e inseridos neste contexto, ativos a serem protegidos também.

Dada a nascedoura instabilidade, a doutrina clássica da política de Maquiavel nos advém com o conceito de Fortuna, sendo é a força indomável e imprevisível que governa os acontecimentos humanos, capaz de impor obstáculos, desafios e oportunidades aos indivíduos e aos Estados, portanto, um elemento externo e volúvel que exige que os líderes políticos sejam astutos, adaptáveis e capazes de dominar as circunstâncias em constante mudança para alcançar seus objetivos, talvez uma das mais desafiadores da metáfora (ou conceito de fortuna) em Maquiavel de nossos tempos seja os desafios da questão climática, afinal, quando se trata dessa questão relacionada à água, ficam ainda mais amplificados pelas mudanças climáticas, e que afetam a disponibilidade e a distribuição dos recursos hídricos em todo o mundo. Além apenas da  elevação do nível do mar, do derretimento das calotas polares, das amplitudes de temperatura fora do padrão, e as variações nas precipitações são apenas algumas das consequências das mudanças climáticas que impactam diretamente os recursos hídricos e a segurança hídrica, também elevando os problemas geopolíticos, e de determinada maneira não há certeza sobre a reversibilidade dessa imprevisibilidade climática, vide inclusive a inserção de nós, humanos no dito por diversos antropólogos, historiadores, geógrafos, cientistas e pesquisadores do clima, dentre outros, a entrada no Antropoceno, o que representaria uma nova era geológica na qual atividade humana se tornou uma força dominante que molda o sistema Terra, inclusive, portanto, as mudanças climáticas como um dos principais indícios dessa de tal era, trazendo a reflexão do impacto maciço das atividades humanas no clima global, advindo então uma emergência no tempo pois o Antropoceno perpassa até mesmo uma questão de remodelagem cognitiva na perspectiva de nossas relações com o meio ambiente, na previsibilidade e também em iniciar ações urgentes para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e garantir a sustentabilidade do nosso planeta, elevando a resposabilidade das tomadas de decisão e das lideranças frente aos processos, e complexificando ainda mais a geopolítica.

“O Antropoceno é uma nova era geológica marcada pelo impacto significativo das atividades humanas na biosfera global, incluindo mudanças climáticas, perda de biodiversidade e transformações na paisagem. Essa era reflete a necessidade urgente de reconhecermos a responsabilidade humana na preservação e sustentabilidade do nosso planeta.” (Steffen, 2015)

O papel dos Serviços de Inteligência de Estado na Compreensão e Mitigação dos Conflitos da Água

Os serviços de inteligência de Estado desempenham um papel crucial na compreensão e mitigação dos conflitos relacionados à água. Eles possuem a expertise e os recursos necessários para coletar, analisar e interpretar informações relevantes sobre os recursos hídricos, as políticas governamentais, as tensões regionais e outros fatores que afetam a segurança hídrica.A coleta de informações abrange uma ampla gama de fontes, incluindo dados hidrológicos, análises de satélite, relatórios governamentais, estudos acadêmicos, informações de fontes abertas e até mesmo inteligência humana. Essas informações são analisadas de forma integrada, permitindo uma compreensão abrangente das dinâmicas dos conflitos da água em diferentes escalas geográficas. A informação enquanto produto inclusive, têm sido fruto até mesmo de guerras, que passam a ser assimétricas e híbridas, fazendo com quê a Teoria da Guerra Híbrida se aplique exatamente neste contexto, conforme Brzoska (2017), em Water, Information, and Hybrid Warfare, referindo “A água, como recurso essencial para a vida e desenvolvimento humano, tornou-se uma fonte de poder e instrumento de guerra híbrida, onde o controle da informação sobre sua distribuição e acesso pode ser usado para manipular e desestabilizar sociedades e regiões.”, ainda sobre questões teóricas do militarismo, vale alencar também a doutrina Gerasimov, nomeada após o general russo Valery Gerasimov, é uma abordagem estratégica que visa integrar diversos instrumentos, incluindo militares, políticos, econômicos e de informação, para alcançar objetivos políticos. É importante ressaltar que a doutrina Gerasimov se concentra principalmente também na guerra híbrida e na utilização de táticas não convencionais, como desinformação, propaganda e guerra cibernética, para minar a estabilidade de adversários e alcançar objetivos estratégicos.“O objetivo é ganhar uma guerra sem declarar guerra e conquistar objetivos políticos sem recorrer ao uso convencional da força. O general Valery Gerasimov, da Rússia, argumenta que o poder militar é apenas uma ferramenta em um amplo arsenal de instrumentos de poder estatal, que incluem meios políticos, econômicos, informativos e psicológicos.” – Michael Kofman, Pesquisador Sênior do Centro de Análise Naval (Center for Naval Analyses).

A evidência das várias formas de desestabilização, também, portanto começam nas essenciais e vitais para a humanidade, a água, talvez seja, a principal delas. Também, é importante ressaltar que na medida em que há locomoção ou alteração da disponibilidade de água enquanto recurso, a população também tende a fluxos migratórios, o que pode inclusive fazer com que além de conflitos transfronteiriços haja conflitos étnicos movidos pelas diferenças culturais ou mesmo como na teoria de Bourdieu, no campo e no habitus. É necessário, então para os serviços de inteligência a compreensão da dinâmica das alterações climáticas e no fluxo migratório, a necessidade da compreensão que conflitos culturais são eminentes nesse processo, podendo inclusive gerar violências ou mesmo genocídios inteiros pois a cultura desempenha um papel estrutural em alguns conflitos, mas também pode inclusive um ativo na solução de vários outros, afinal, os conflitos culturais têm como etiologia, a diversidade e os fenômenos humanos relativos a diferença de valores, costumes e outras questões profundas.

A partir dessa análise, os serviços de inteligência são capazes de identificar potenciais fontes de tensão entre grupos, antecipar crises de segurança, avaliar riscos e fornecer recomendações estratégicas para a tomada de decisões políticas, promovendo a paz e a segurança, por isso é necessário a colaboração com outros órgãos governamentais, instituições acadêmicas e organizações internacionais, colocando sempre a fundamental premissa que a segurança hídrica, nacional ou a prevenção de conflitos seja necessário outros órgãos compartilhar informações, coordenar esforços e implementar medidas de gestão sustentável dos recursos hídricos no viés informacional.Um dos mecanismos humanos mais avançados em termos políticos para solução de conflitos, é a diplomacia, e es serviços de inteligência também desempenham um papel importante na prevenção de conflitos e na promoção da diplomacia hídrica. Por meio de informações prévias, eliminando a tensão – diminui-se portanto o dilema da imprevisibilidade na dita teoria dos jogos e é mais fluído e pretenso o diálogo passando para uma negociação definida em questões mútuas de ganho, facilitando a cooperação entre países, estimulando a troca de informações e promovendo a resolução pacífica de disputas relacionadas à água. A diplomacia hídrica desempenha um papel fundamental na construção de confiança e na busca por soluções compartilhadas para os desafios relacionados à água.

Para ser breve, visto que o tema terá capítulo próprio mas para inserir aqui o serviço de inteligência do Brasil em temática geopolítica, é necessário quando se trata de inteligência memorar que a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) desempenha um papel fundamental na proteção dos recursos hídricos do país, calcada na ontologia do Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), estabelecido pela Lei nº 9.433/97 a ABIN é responsável por coletar e analisar informações estratégicas relacionadas aos conflitos da água, bem como às ameaças à segurança hídrica do Brasil.A ABIN possui uma ampla rede de inteligência, que inclui agentes, oficiais e tecnologias de coleta e análise de dados. Essa rede permite a monitoração constante das tendências hidrológicas, dos padrões de uso da água, das políticas governamentais e dos fatores que podem impactar a segurança hídrica do país.No contexto da proteção dos recursos hídricos, a ABIN colabora com outros órgãos governamentais, como o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e o Ministério das Relações Exteriores, além de instituições acadêmicas e organizações da sociedade civil. Essa colaboração é essencial para compartilhar informações, coordenar ações e promover uma abordagem integrada para a gestão dos recursos hídricos.

 Panorama Global dos Conflitos da Água

A água é um recurso essencial para a vida e o desenvolvimento humano, sendo um fator crucial nas dinâmicas sociais, econômicas e políticas. Ao redor do mundo, diversos conflitos têm surgido em torno da água, moldando o atual cenário geopolítico e apresentando desafios significativos para a segurança hídrica global. Nesta seção, faremos uma visão geral dos principais conflitos da água ao redor do mundo, com ênfase nos eventos históricos que os influenciaram, analisando perspectivas de cientistas políticos, economistas, geopolíticos, antropólogos e teóricos de Estado.

O cientista político Aaron Wolf destaca a natureza política dos conflitos da água, observando que eles envolvem lutas pelo poder e controle dos recursos hídricos, bem como pela distribuição e acesso equitativo a esses recursos entre diferentes atores. Essas disputas podem ocorrer entre países, regiões ou comunidades, abrangendo questões de soberania, direitos de uso, gestão e compartilhamento de águas transfronteiriças. (Wolf, 1998), na perspectiva econômica, Maureen Ballestero ressalta a importância econômica dos recursos hídricos e seus impactos nos setores produtivos e sistemas de abastecimento. A escassez de água pode afetar a segurança alimentar, a produção industrial, a geração de energia e o desenvolvimento econômico. Conflitos em torno da água frequentemente surgem de disputas sobre a distribuição de custos e benefícios associados à gestão e utilização dos recursos hídricos. (Ballestero, 2009). Inserido ainda na temática e de questões relacionadas a geopolítica, um expositor de expressão, Peter Gleick ressalta a importância estratégica da água nas relações internacionais. Recursos hídricos escassos podem desencadear tensões entre países e regiões, afetando a segurança nacional e a estabilidade geopolítica. A água é considerada por Gleick como uma “arma silenciosa” que pode ser utilizada como um instrumento de poder e influência em disputas entre Estados, (Gleick, 2014).Na antropologia, Karen Bakker enfatiza a dimensão cultural e social envolvida no acesso e uso da água. As percepções, valores e práticas culturais relacionadas à água desempenham um papel significativo na formação dos conflitos, afetando a identidade, os direitos tradicionais e a participação das comunidades locais na tomada de decisões sobre a gestão dos recursos hídricos (Bakker, 2005). No plano das teorias do Estado, Thomas Hobbes e Max Weber, fornecem insights sobre a relação entre o Estado e a gestão da água pois eles argumentam que a capacidade do Estado de controlar e gerenciar os recursos hídricos seja um elemento central do seu poder e soberania. A água, como um recurso estratégico, influencia a forma como os Estados estabelecem políticas, implementam regulamentações e exercem autoridade sobre os cidadãos e as instituições. (Hobbes, 1651; Weber, 1919).

Ao longo das próximas páginas, exploraremos os eventos históricos mais recentes e que moldaram o cenário geopolítico atual, examinando os fatores políticos, econômicos, militares e tecnológicos que influenciam a segurança hídrica global. Nossa análise abordará casos de conflitos da água em diferentes regiões do mundo, oferecendo uma visão panorâmica das disputas em andamento e suas implicações para a paz, a estabilidade e o desenvolvimento sustentável.

Iniciamos, dentre os eventos históricos que moldaram o atual cenário geopolítico dos conflitos da água, um dos marcos importantes é o Tratado de águas entre Israel e Jordânia, assinado em 1994. Esse acordo estabeleceu um compromisso de compartilhamento de recursos hídricos entre os dois países, que historicamente tiveram disputas acirradas por água. O tratado permitiu a construção de projetos conjuntos de gerenciamento de água, promovendo a cooperação e a confiança mútua entre as partes envolvidas. (Brooks et al., 2019). Outro case significativo é o caso do rio Nilo, que desempenha um papel central nas relações entre os países ribeirinhos, como Egito, Sudão e Etiópia. A construção da Grande Barragem do Renascimento Etíope no rio Nilo gerou tensões entre esses países devido às preocupações com o acesso à água e a segurança hídrica. As negociações em torno do uso e compartilhamento dos recursos hídricos do Nilo têm sido complexas e refletem a interação de fatores históricos, políticos e econômicos. (Allan, 2002)

Temos ainda um terceiro conflito para análise: o conflito entre a Índia e o Paquistão sobre as águas do rio Indo também merece destaque. Esses países, ambos dependentes do rio Indo para abastecimento de água e agricultura, têm disputas territoriais e políticas que afetam o acesso e uso dos recursos hídricos. Os acordos de água entre os dois países têm desempenhado um papel importante na prevenção de conflitos e na promoção da cooperação regional. (Wirsing et al., 2011). A exploração de recursos hídricos em áreas de conflito, como o Oriente Médio e a região do Sahel na África, também apresenta desafios significativos. A gestão inadequada dos aquíferos compartilhados e a escassez de água podem agravar as tensões e levar a conflitos armados. Por exemplo, o Aquífero de Núbia, que se estende por várias fronteiras no norte da África, é uma fonte crítica de água potável para a região, mas sua exploração excessiva e disputas por seu uso têm gerado preocupações quanto à estabilidade regional. (Salman, 2009)

Acima citados, os cases citado destacam a complexidade dos conflitos da água e a necessidade de uma abordagem abrangente que leve em consideração os fatores políticos, históricos, econômicos e culturais envolvidos. A compreensão dos eventos históricos que moldaram o cenário geopolítico atual é fundamental para identificar os desafios e buscar soluções sustentáveis para a segurança hídrica global.Para bem além de só uma perspectiva histórica em alguns eventos recentes é importante compreender os fatores políticos, econômicos, militares e tecnológicos que influenciam a segurança hídrica global e contribuem para os conflitos da água, e afirmar categoricamente que a gestão inadequada dos recursos hídricos, a falta de acesso equitativo à água, a degradação dos ecossistemas aquáticos e as mudanças climáticas são alguns dos desafios enfrentados em nível global.

No aspecto político, a distribuição desigual dos recursos hídricos pode levar a tensões entre países e regiões. A competição pela água pode ser exacerbada por disputas territoriais, interesses nacionais e rivalidades históricas. Além disso, as políticas internas de cada país em relação à água, como a falta de regulamentação adequada ou a corrupção, podem influenciar a disponibilidade e a distribuição da água, gerando descontentamento e conflitos entre diferentes grupos sociais.Da perspectiva econômica, a água desempenha um papel fundamental no desenvolvimento e na sustentabilidade de diversas atividades, como a agricultura, a indústria e o abastecimento urbano. A escassez de água ou a má gestão dos recursos hídricos podem afetar negativamente a economia de um país e gerar tensões entre diferentes setores e atores envolvidos. Além disso, a privatização da água e a comercialização dos recursos hídricos têm sido objeto de debates e conflitos em diversos contextos, destacando a importância do acesso equitativo à água como direito humano fundamental.No aspecto militar, a água tem sido reconhecida como um recurso estratégico e pode ser motivo de disputas e até mesmo conflitos armados. A segurança hídrica é considerada uma questão de segurança nacional para muitos países, especialmente aqueles que dependem de recursos hídricos transfronteiriços. A possibilidade de controle de fontes de água ou interrupção do fluxo hídrico pode ser utilizada como ferramenta de pressão política ou militar, ampliando as tensões e os riscos de conflitos.A tecnologia desempenha um papel cada vez mais importante na gestão dos recursos hídricos e na prevenção de conflitos. A aplicação de sistemas de monitoramento, sensoriamento remoto, modelagem hidrológica e gestão de dados pode melhorar a compreensão dos recursos hídricos, permitindo uma abordagem mais precisa e sustentável. No entanto, a tecnologia também pode gerar desigualdades e desafios, uma vez que nem todos os países e comunidades têm acesso igualitário às soluções tecnológicas e às informações necessárias para uma gestão eficiente dos recursos hídricos.Em breve síntese a compreensão dos principais conflitos da água ao redor do mundo requer uma análise abrangente dos eventos históricos e dos fatores políticos, econômicos, militares e tecnológicos que moldam o cenário geopolítico atual. A interoperabilidade  desses elementos cria desafios complexos, mas também oportunidades para a cooperação e a busca de soluções sustentáveis. A próxima seção explorará de forma breve os fatores políticos, econômicos, militares e tecnológicos que influenciam a segurança hídrica global.

Análise dos fatores políticos, econômicos, militares e tecnológicos que influenciam a segurança hídrica global

Fatores Política, Métodos e Formas de Estado

A segurança hídrica global é influenciada por uma interação complexa de fatores políticos, econômicos, militares e tecnológicos, que desempenham um papel crucial na gestão dos recursos hídricos e na prevenção de conflitos.Ao explorar como esses fatores se entrelaçam e moldam a segurança hídrica em nível global, com base em estudos publicados de de diversos especialistas nas áreas de ciência política, economia, geopolítica, antropologia e teoria do Estado. Como base antes da questão política é preciso compreender as interconexões que a questão da água trás – política, economia, tecnologia, questões militares e demais complexificação em que nossa sociedade está inserida e inclusive na capacidade desses sistemas se comunicarem e se comporem. Nessas redes complexas que a sociedade moderna se compõe, portanto, vale aqui evocar o alemão Niklas Luhmann e sua teoria dos sistemas. “O conceito central da teoria de Luhmann é a autopoiese dos sistemas sociais, que se refere à sua capacidade de autorreprodução e autossustentação. De acordo com Luhmann, os sistemas sociais são sistemas autopoiéticos de comunicação, nos quais as interações e os fluxos de comunicação são a base fundamental da sociedade. Ele enfatiza que a sociedade é uma rede complexa de sistemas sociais interligados, e a comunicação é o meio pelo qual os sistemas sociais se comunicam e se diferenciam uns dos outros. Essa perspectiva da sociedade como uma rede de sistemas autônomos e interconectados é fundamental para compreender as dinâmicas sociais e a evolução dos sistemas sociais ao longo do tempo” (Luhmann, 1984).

Iniciamos pela política, a gestão da água envolve uma ampla gama de atores e interesses. Segundo Aaron T. Wolf, especialista em recursos hídricos, “a água está no cerne da política, seja no nível doméstico ou internacional” (Wolf, 1998, p. 507). Os governos desempenham um papel central na formulação de políticas hídricas, na criação de marcos legais e institucionais e na negociação de acordos e tratados relacionados à água, afinal, os adventos dos Estados nacionais historicamente centralizaram para si o monopólio das discussões sobre segurança e serviços essenciais, e em nível de organizações internacionais, como as Nações Unidas e a Organização Mundial da Saúde, desempenham papel fundamental na promoção da cooperação e na abordagem de desafios transnacionais relacionados à água. A análise dos fatores políticos que influenciam a segurança hídrica global revela a interação complexa entre as decisões políticas, as relações de poder e as políticas de gestão dos recursos hídricos. A política desempenha um papel fundamental na determinação das prioridades, alocação de recursos e tomada de decisões relacionadas à água, afetando diretamente a segurança hídrica em escala global.

Diversas teorias políticas oferecem insights valiosos para entender o papel dos atores políticos na gestão da água. A abordagem realista das Relações Internacionais, por exemplo, destaca a competição e os interesses de poder entre os Estados como fatores determinantes nas questões hídricas. Segundo Morgenthau, um dos principais teóricos realistas, “os interesses nacionais, definidos em termos de poder, são o elemento central das Relações Internacionais”. Essa perspectiva se reflete nos conflitos e nas negociações em torno dos recursos hídricos em várias regiões do mundo. Exemplos concretos dessas dinâmicas políticas podem ser observados nas tensões entre Israel e os países vizinhos no Oriente Médio. A disputa pela água do Rio Jordão, por exemplo, tem raízes políticas profundas. Em um contexto de conflitos territoriais e questões de segurança, o acesso à água se tornou uma questão de interesse nacional para esses países. O conflito israelense-palestino também possui uma dimensão hídrica significativa, com questões relacionadas ao controle e ao acesso à água desempenhando um papel central nas negociações de paz.

Adentrando ainda na influência das ideologias políticas também é relevante na segurança hídrica global. Diferentes abordagens ideológicas podem moldar as políticas de gestão da água e os valores atribuídos a esse recurso vital. Por exemplo, no contexto da sustentabilidade ambiental, teorias como o ecologismo político enfatizam a importância da preservação dos ecossistemas aquáticos e do uso sustentável da água. Essa perspectiva é frequentemente associada a movimentos sociais e políticos que buscam proteger os recursos hídricos e promover a equidade no acesso à água. Para citar alguns pesquisadores que contribuíram a fundo para a compreensão dos fatores políticos, econômicos, militares e tecnológicos na segurança hídrica global, destacamos os trabalhos de Peter H. Gleick, co-fundador e presidente emérito do Pacific Institute, especialista em recursos hídricos e conflitos relacionados à água, e David Brooks, especialista em economia dos recursos naturais e conflitos hídricos.

Muito além dos fatores políticos mencionados anteriormente, é importantíssimo destacar a influência das relações internacionais e dos acordos diplomáticos na segurança hídrica global. A cooperação e o diálogo entre os países desempenham um papel fundamental na gestão dos recursos hídricos compartilhados. Acordos bilaterais, tratados multilaterais e organizações internacionais têm como objetivo promover a cooperação e prevenir conflitos relacionados à água, nesse contexto, é importante inserir a teoria da interdependência complexa, proposta por Robert Keohane e Joseph Nye, destaca a importância das interações políticas e econômicas entre os atores internacionais na resolução de questões transnacionais, contextualizando com a questão da segurança hídrica, essa abordagem teórica enfatiza a necessidade de diálogo, negociação e cooperação entre os Estados para alcançar soluções sustentáveis, um case notável da perspectiva dessa teoria pode ser de cooperação política na gestão dos recursos hídricos é o caso do Acordo de Águas do Rio Paraná, assinado em 1969 entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, tal acordo estabeleceu as bases para a utilização e o compartilhamento das águas do rio, promovendo a cooperação entre os países e prevenindo conflitos relacionados energia e também a água na região. Ressalvando que nem sempre a cooperação é alcançada de forma harmoniosa, conclui-se que os interesses políticos e a busca por vantagens estratégicas podem gerar tensões entre os países, dificultando a cooperação na gestão dos recursos hídricos, um case de tal fato é explícito no caso do rio Indo, que é compartilhado entre a Índia eo Paquistão, onde as disputas territoriais e as tensões políticas entre esses dois países têm impacto direto nas negociações sobre o uso da água do rio, dificultando a cooperação efetiva.

Além dos fatores políticos, os aspectos culturais da política e antropológicos da política também desempenham um papel significativo na segurança hídrica global. As percepções culturais e as práticas tradicionais relacionadas à água podem influenciar as políticas de gestão e a forma como os conflitos hídricos são abordados. Citando os mesmos países do último case, é interessante a observação sobre o sistema tradicional de gerenciamento da água na região do Vale do Rio Indus, no Paquistão, conhecido como “Karez” – nesse sistema ancestral de túneis subterrâneos e poços permite a captação e distribuição da água de forma sustentável, garantindo o acesso à água para as comunidades locais, tal cultural demonstra como as abordagens tradicionais podem contribuir para a segurança hídrica, complementando as políticas modernas de gestão da água e fazendo inclusive um movimento de prevenção de conflito e preservação de arcabouços metodológicos simbólicos culturais.

Além dos fatores políticos  culturais, é fundamental considerar também os aspectos legais  e institucionais como formas políticas relacionadas à segurança hídrica global. Os marcos legais e as estruturas institucionais podem fornecer um arcabouço para a gestão e a governança dos recursos hídricos, claro, além de garantir a participação e os direitos das partes interessadas. O case mais relevante em sentido internacional é a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito dos Usos dos Cursos de Água Internacionais, adotada em 199, onde essa convenção estabelece princípios e normas para a utilização equitativa e razoável das águas compartilhadas, promovendo a cooperação e a prevenção de conflitos entre os Estados de forma com que os dispositivos legais tenham previsibilidade de solucionabilidade de tais conflitos.

Se tratando de uma questão relacionada a biosfera e também, política, é importante evocar o conceito de biopolítica, como um conceito desenvolvido pelo filósofo e teórico social Michel Foucault, que se refere ao exercício do poder sobre a vida humana, especialmente no que diz respeito à gestão e controle dos corpos e populações. Envolve a governança e regulamentação dos aspectos biológicos da vida, como saúde, natalidade, mortalidade, higiene e condições de vida. Sendo portanto, “a subjugação dos corpos e o controle dos processos de vida que se tornaram o alvo das técnicas políticas modernas” (Foucault, 1976).

A intersecção deste conceito com outro conceito da política atual no prisma além do controle, mas também a água enquanto instrumentalização ou weaponizing, é o conceito de Achille Mbembe, renomado teórico pós-colonial, introduziu e explorou o conceito de necropolítica em seu livro “Necropolitics” (2003). Segundo Mbembe, a necropolítica é “a subjugação da vida ao poder da morte” (Mbembe, 2003), portanto, a água – e principalmente sua escassez – nos vários casos ao redor do mundo – nas interfaces mais extremas da biopolítica e da necropolítica, no caso do prisma da não escassez mas da água enquanto conflito é importante evocar os casos de Brumadinho e Mariana, ambos no estado de Minas Gerais, Brasil, podem ser analisados à luz do conceito de necropolítica. Em 2015, o rompimento da barragem de rejeitos de mineração em Mariana resultou em uma catástrofe ambiental e humana, com dezenas de vítimas fatais e impactos socioeconômicos significativos. Em 2019, ocorreu um evento semelhante em Brumadinho, quando outra barragem de mineração se rompeu, causando uma tragédia ainda mais grave, com centenas de mortes.Esses eventos revelam a negligência das empresas envolvidas na manutenção e segurança das barragens, assim como a falta de ações efetivas por parte do Estado para garantir a segurança das comunidades afetadas. A busca pelo lucro e a exploração desmedida dos recursos naturais acabaram resultando em desastres que ceifaram vidas humanas, causaram sofrimento e devastaram o meio ambiente. Essas tragédias evidenciam a forma como o poder é exercido sobre a vida e a morte, mostrando como a necropolítica está presente nas relações de poder e nas práticas socioeconômicas que colocam em risco comunidades vulneráveis e ecossistemas.

Ainda sobre fatores políticos que influenciam internamente a segurança hídrica global, é essencial considerar as políticas e estratégias adotadas pelos governos para gerenciar os recursos hídricos, onde para efeitos comparativos, diferentes abordagens políticas podem levar a resultados distintos na gestão e na resolução de conflitos relacionados à água.Partindo do dito realpolitik, onde a política que tem relevância nesse contexto sendo o realismo, que enfatiza a competição e o interesse próprio dos Estados. Seja em determinada perspectivas as abstrações e interpretações de Maquiavel como uma das referências pilares o sobre viés conservador de Leo Strauss onde em referência direta, o “Realpolitik é a política dos estados que se baseia na consideração pragmática dos interesses nacionais, colocando a sobrevivência e a segurança acima de considerações éticas ou ideológicas.” (Strauss, 1958) ou seja no realpolitik do francês Raymond Aron onde o “Realpolitik enquanto a arte de pensar e agir de acordo com a realidade, levando em consideração os fatos, os interesses e as limitações políticas, sem se deixar levar por ilusões ou ideais abstratos” (Aron, 1962) a materialidade e o pragmatismo das questões ficam explícitas.

Segundo o realismo, os Estados buscam garantir sua própria segurança e maximizar seus interesses nacionais, o que pode levar a rivalidades e conflitos pela água. O realismo também destaca a importância do poder e da influência geopolítica na determinação das políticas hídricas

Um case notável é o conflito entre Israel e os países vizinhos no Oriente Médio. A região é caracterizada pela escassez de água e disputas territoriais complexas, e a água desempenha um papel central nesses conflitos. A disputa pela água do rio Jordão e dos aquíferos subterrâneos tem gerado tensões e desconfianças entre as partes envolvidas. A política hídrica de Israel, baseada na tecnologia avançada de dessalinização e reutilização da água, tem sido alvo de controvérsias e considerada como uma forma de exercer poder e controle sobre os recursos hídricos da região.Além disso, teorias políticas como o federalismo e o neoliberalismo também podem influenciar as políticas hídricas. O federalismo, que envolve a descentralização do poder e a participação de diferentes níveis de governo na tomada de decisões, pode facilitar a cooperação entre regiões e estados para a gestão conjunta dos recursos hídricos, porém, aliado a questão política e a economia o neoliberalismo, com seu enfoque na privatização e no mercado livre, pode ter implicações na forma como os recursos hídricos são distribuídos e gerenciados, podendo levar a desigualdades no acesso à água.

Os diversos fatores políticos desempenham um papel crucial na segurança hídrica global. As teorias políticas e as estratégias adotadas pelos governos podem influenciar a forma como os conflitos relacionados à água são abordados e resolvidos. É fundamental compreender as abordagens políticas e os interesses envolvidos para buscar soluções sustentáveis e cooperativas na gestão dos recursos hídricos.

Fatores Econômicos

No campo econômico, a água é um recurso fundamental para o desenvolvimento sustentável e a prosperidade econômica. Como destacado por Michael Hanemann, economista especializado em recursos hídricos, “a água é uma mercadoria econômica, um bem público e um direito humano básico” (Hanemann, 2006, p. 382). A disponibilidade de água em quantidade e qualidade adequadas é essencial para setores-chave, como agricultura, indústria, energia e abastecimento público. As decisões econômicas relacionadas à gestão da água, como o estabelecimento de preços e tarifas, a alocação de recursos e os investimentos em infraestrutura, desempenham um papel crucial na garantia da segurança hídrica. No contexto militar entrelaçando com a questão econômica, a água pode desempenhar um papel estratégico e, em certos casos, tornar-se uma fonte de tensões e conflitos.  O teórico geopolítico Geoffrey Kemp observa que “a água é uma questão estratégica para muitos países” (Kemp, 2000, p. 171). Disputas territoriais, controle de bacias hidrográficas transfronteiriças e rivalidades geopolíticas podem levar a tensões e confrontos. A militarização, nos cria também fatos de protecionistas economicamente  dos recursos hídricos, incluindo a construção de barragens e ações unilaterais que afetam o fluxo de água, pode ser uma fonte de instabilidade e desconfiança entre Estados, então, a dimensão militar é um fator importante a ser considerado ao analisar a segurança hídrica global. Em termos tecnológicos, a inovação desempenha um papel cada vez mais importante na gestão eficiente e sustentável dos recursos hídricos. Avanços em tecnologias de dessalinização, reciclagem de água, monitoramento remoto e gerenciamento de dados têm o potencial de melhorar a disponibilidade e a qualidade da água entretanto, o acesso a essas tecnologias e sua implementação nem sempre são equitativos, o que pode acentuar as disparidades socioeconômicas e contribuir para desigualdades no acesso à água.

Adentrando nos fatores econômicos que influenciam a segurança hídrica global revela-se a estreita relação entre o acesso à água e o desenvolvimento socioeconômico, leva-se portanto também a questão de ativos em perspectivas econômicas a desempenharem um papel significativo na forma como os recursos hídricos sejam utilizados, distribuídos e valorizados, podendo influenciar os conflitos e as tensões em torno da água. Um dos principais enfoques econômicos nesse prisma relacionados à segurança hídrica é a valoração da água. A teoria econômica do valor da água busca determinar o preço e o custo de oportunidade associados ao uso da água. Economistas como William J. Baumol e Harold Hotelling contribuíram para o desenvolvimento de abordagens econômicas que consideram a escassez e o valor da água como base para a tomada de decisões – também é valido alencar aqui a complexificação econômica, que é o processo pelo qual as economias evoluem de estruturas simples e fragmentadas para estruturas mais interconectadas e interdependentes, caracterizadas por uma ampla gama de setores, diversificação produtiva e maior complexidade nas relações econômicas. Esse processo implica o aumento da sofisticação tecnológica, da especialização produtiva e da integração global, resultando em maior produtividade, crescimento econômico sustentável e desenvolvimento social.

A valoração econômica da água tem implicações significativas na gestão dos recursos hídricos. Em alguns casos, a falta de um sistema adequado de valoração pode resultar em usos ineficientes e desperdício de água. Entretanto, a valoração excessiva da água pode levar à privatização e à comercialização desse recurso essencial, gerando desigualdades no acesso à água e agravando os conflitos. Mais uma vez citando o case marcante é a Bacia do Rio Nilo, na África. A demanda crescente por água devido ao aumento populacional e às atividades econômicas tem gerado tensões entre os países que compartilham o rio, como Egito, Etiópia e Sudão. A construção da Grande Represa do Renascimento Etíope no Nilo Azul, por exemplo, levanta preocupações sobre a escassez de água e os impactos econômicos para o Egito, que historicamente depende do Nilo para a irrigação de suas terras agrícolas, influenciando nas commodities neste contexto. Muito além da valoração, as políticas econômicas, como subsídios à água, tarifas de uso e investimentos em infraestrutura, também desempenham um papel importante na gestão dos recursos hídricos. Citamos, por exemplo, economistas como Elinor Ostrom que têm enfatizado a importância de estruturas de governança e incentivos econômicos adequados para promover a cooperação na gestão compartilhada da água.

Portanto, os fatores econômicos desempenham um papel significativo na segurança hídrica global. A valoração adequada da água e a implementação de políticas econômicas eficazes são fundamentais para a gestão sustentável dos recursos hídricos e a prevenção de conflitos. Compreender as teorias econômicas e os exemplos práticos nos ajuda a explorar abordagens inovadoras e equitativas na gestão da água, e os fatores econômicos desempenham um papel fundamental na segurança hídrica global. O envolvimento do setor privado, a regulação adequada e a consideração dos custos e benefícios são elementos-chave para promover uma gestão sustentável dos recursos hídricos e evitar conflitos relacionados à água.

Continuando a análise dos fatores econômicos que influenciam a segurança hídrica global, é fundamental considerar o papel do setor privado e as dinâmicas econômicas envolvidas na gestão dos recursos hídricos. O envolvimento das empresas e a exploração comercial da água têm impactos significativos na segurança hídrica, podendo tanto contribuir para soluções quanto aumentar os desafios existentes. Empresas de diversos setores, como agricultura, indústria, energia e abastecimento público, dependem da água como insumo fundamental para suas operações. O gerenciamento eficiente e sustentável dos recursos hídricos é essencial para garantir a continuidade e a estabilidade dessas atividades econômicas. No entanto, a exploração excessiva, a poluição e a falta de regulação podem levar à escassez de água e desencadear conflitos socioeconômicos. É importante destacar a relevância das políticas e regulamentações voltadas para a gestão dos recursos hídricos. A implementação de instrumentos econômicos, como tarifas de água, incentivos fiscais e mecanismos de mercado, desempenha um papel crucial na promoção da eficiência hídrica e na alocação equitativa dos recursos, inclusive, a criação de parcerias público-privadas e a promoção da responsabilidade corporativa podem contribuir para a preservação dos recursos hídricos e a mitigação de conflitos. Um case emblemático desse contexto econômico é a gestão da água em regiões áridas e semiáridas, como o Oriente Médio. A escassez de água nessa região tem levado a uma intensificação das disputas e tensões entre países, uma vez que a água é um recurso vital para a agricultura, a indústria e o abastecimento público. A competição por recursos hídricos pode levar a políticas protecionistas e a conflitos entre nações, comprometendo a estabilidade regional e a segurança global. A abordagem econômica para a segurança hídrica também envolve a consideração dos custos e benefícios associados às diferentes opções de gestão dos recursos hídricos. Investimentos em infraestrutura hídrica, tecnologias de tratamento e reutilização, sistemas de monitoramento e gestão integrada podem trazer benefícios econômicos, sociais e ambientais significativos a longo prazo

Fatores Militares

Na análise dos fatores militares que influenciam a segurança hídrica global e os conflitos relacionados à água, é crucial compreender o papel das forças armadas e as dinâmicas de poder que envolvem a proteção e o controle dos recursos hídricos. A segurança hídrica está intrinsecamente ligada à segurança nacional, e as considerações militares desempenham um papel significativo nesse contexto, importante salientar as conexões entre os tópicos política e guerra, sintetizadas inclusive no pensamento de Clausewitz (1984, p. 75) onde “guerra é, portanto, um ato de força para obrigar o nosso inimigo a fazer a nossa vontade” colocando a extensão da política como a guerra e parte da guerra, a extensão política.

As questões militares relacionadas à água envolvem uma ampla gama de aspectos, incluindo disputas territoriais, estratégias de defesa, cooperação regional e o potencial uso da água como arma ou instrumento de poder. A competição por recursos hídricos escassos pode agravar tensões políticas e étnicas, bem como desencadear conflitos e guerras, como visto também anteriormente na Teoria da Guerra de Recursos e na Teoria da Guerra Híbrida. Com base no cientista político Thomas Homer-Dixon, “a água pode ser uma causa subjacente de conflitos violentos, ou pode agravar conflitos pré-existentes” infere-se também a importância de entender como as questões militares se entrelaçam com a disponibilidade e o acesso à água.

Um para citar mais uma vez a região do Rio Nilo, onde diferentes países compartilham o mesmo recurso hídrico. O Egito, por exemplo, considera o Rio Nilo uma questão de segurança nacional e utiliza sua força militar para proteger seus interesses hídricos. Outros países da bacia do Nilo, como Etiópia e Sudão, que também têm reivindicações sobre o uso da água do rio, o que pode levar a tensões e disputas. A Teoria do Realismo Político (ou realpolitik), citada no tópico anterior e também desenvolvida por teóricos como Hans Morgenthau, também infere-se a importância do poder e da segurança nacional nas relações internacionais, e neste sentido a água pode ser considerada um recurso estratégico e, em certas situações, os estados podem recorrer a meios militares para garantir seu acesso e controle. No campo militar, além da política, há perspectiva que os avanços tecnológicos desempenham um papel significativo na dimensão militar da segurança hídrica pois a utilização de sistemas de monitoramento remoto, tecnologias de dessalinização, infraestrutura de armazenamento e projetos de engenharia hídrica pode influenciar as capacidades militares e as estratégias de defesa relacionadas aos recursos hídricos. Os fatores militares, portanto, desempenham um papel relevante na segurança hídrica global. As disputas territoriais entre Estados nacionais alcançam como instrumentalização as estratégias de defesa e o potencial uso da água como instrumento de poder são elementos que exigem análise aprofundada e compreender as teorias militares com os cases históricos e as dinâmicas geopolíticas relacionadas à água é essencial para mitigar conflitos e promover a cooperação na gestão sustentável dos recursos hídricos.

Na análise fatores militares que influenciam a segurança hídrica global, é essencial considerar o papel das capacidades e estratégias militares, bem como os desafios e implicações que surgem nesse contexto, afinal, em Liddell Hart (1991), “A estratégia militar é a arte de empregar os meios disponíveis para alcançar os objetivos políticos desejados.”

A interseção entre a segurança hídrica e os aspectos militares pode ser complexa e multifacetada, exigindo uma abordagem abrangente além apenas das estratégias. A disponibilidade e o acesso à água podem desempenhar um papel imenso na formulação de estratégias militares pois em muitas regiões, os recursos hídricos são uma preocupação central para a defesa e a segurança nacional, não só no campo de batalha, mas também do próprio Estado nacional em si sendo mais uma vez a água é vista como um recurso vital, e sua escassez ou controle indevido pode representar uma ameaça à estabilidade e à segurança de um país, como vimos na Teoria da Guerra Híbrida.

Apesar da importância, as questões militares relacionadas à água não se limitam apenas à defesa e à segurança. Elas também estão ligadas à diplomacia e à cooperação internacional. A água pode servir como um elemento de cooperação e construção de confiança entre países, mas também pode ser motivo de tensões e conflitos – mais outra vez, em termos de conflitos cita-se o exemplo notável é o caso da região do Rio Jordão, onde Israel, Jordânia e Palestina têm interesses e reivindicações sobre o uso da água. A escassez de água na região tem implicações diretas na segurança e nas estratégias de defesa desses países, onde em termos militares, conflitos passados e presentes na região têm sido influenciados pelas dinâmicas da água, demonstrando a importância dos fatores para além de vital e estratégico, também um prolongação do Longue durée nos conflitos

Com base na formulação de própria ontologia das doutrinas militares passarem pela questão da segurança como ponto de partida, a teoria da segurança humana, desenvolvida pelo economista Amartya Sen, ressalta a importância de garantir as necessidades básicas da população, incluindo o acesso à água potável, deixando claro, que mesmo no contexto econômico militar falta de segurança hídrica pode levar a conflitos e crises humanitárias, ameaçando a estabilidade regional e global, sendo então, a análise dos fatores militares deve considerar a segurança não apenas dos Estados, mas também a segurança das populações afetadas pela escassez hídrica como dinâmica interna e não só externas destes Estado..

Para o diálogo com a Teoria da Guerra de Recursos e para intersecção sobre militarismo e economia, para bem como análise de escalabilidade e alocação de recursos como também um red flag para conflitos, em termos numéricos, dados e informações sobre as capacidades militares e os gastos relacionados à segurança hídrica são fundamentais para compreender a dimensão militar desses conflitos, neste sentido é preciso da análise constante de relatórios econômicos, militares e nisso há um papel importante dos Think Tanks como centros de estudos específicos, um case é o relatório anual do Instituto Internacional de Pesquisa sobre Paz de Estocolmo (SIPRI) e  os relatórios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) fornecem dados e análises importantes sobre esses aspectos onde fornecem análises detalhadas sobre os gastos militares e as capacidades de defesa relacionadas à água em diferentes regiões do mundo. Neste sentido, as informações atualizadas e comparativos de evolução, série histórica e investimento dos fatores militares desempenham um papel crucial na segurança hídrica global pois dentro dos Estados nacionais compreensão das estratégias de defesa, dos exemplos históricos e dos números relacionados aos gastos e capacidades militares é mais que essencial para abordar os conflitos e promover uma gestão sustentável dos recursos hídricos em nível global.

Ainda sobre a questão militar, para não ficar apenas no dito “ocidentalismo” e abranger a história mais profunda, outro teórico militar relevante é Sun Tzu, autor de “A Arte da Guerra”, pois sua obra tenha sido escrita há mais de dois mil anos, muitos de seus princípios continuam sendo aplicáveis, neste sentido, Sun Tzu argumenta que a vitória militar depende de uma compreensão profunda do terreno, da avaliação das capacidades próprias e do inimigo, e da elaboração de estratégias eficazes, e se tratando conflitos relacionados à água, esses princípios podem ser aplicados à análise da topografia e geografia das bacias hidrográficas, à avaliação das capacidades hídricas de diferentes países e à formulação de estratégias de gestão e cooperação, e a análise do “Terreno” passa a ser multifacetada, levando em conta não apenas a literalidade em fatores geográficos como topografia, limites ou mesmo hidrográfica mas terreno enquanto também a teoria de Bourdieu enquanto campo onde há investimento dos mais diversos capitais além do econômico, como também o bélico no sentido militar, o político e o cultural, entre outros.

Na aplicação das teorias militares e política citadas, é importante entender que há também a consideração dos exemplos e dados fornecem insights valiosos para entender a interseção entre os fatores militares e a segurança hídrica global, neste sentido ao analisar os fatores militares que influenciam a segurança hídrica global e os conflitos da água, é essencial considerar o papel das forças navais, pois as forças navais desempenham um papel significativo na proteção e no controle de rotas marítimas, bem como na defesa dos interesses nacionais em áreas costeiras e oceânicas, sendo na teoria militar da projeção de poder um fator  relevante quando se discute o papel das forças navais nos conflitos relacionados à água, sendo inclusive historicamente responsável pela projeção de poder se que refere à capacidade de um país estender sua influência e proteger seus interesses além de suas fronteiras, então nos conflitos da água, a projeção de poder naval pode ser aplicada à defesa de rotas marítimas críticas para o transporte de recursos hídricos, bem como à proteção de infraestruturas costeiras, como portos e instalações de dessalinização enquanto lógica de recurso de consumo, segurança hídrica ou mesmo ativo ou insumo ecônomico.

Um case importante do uso das forças navais nos conflitos da água é o Mar da China Meridional, uma das áreas com mais tensões e de mais observação internacional, pois nessa região, países como China, Vietnã, Filipinas e outros têm disputas territoriais que incluem questões de soberania sobre recursos marítimos, e isso incluindo água. As marinhas desses países desempenham um papel fundamental na proteção de suas reivindicações, na vigilância das águas disputadas e na demonstração de força.As capacidades navais também são fundamentais para a resposta a desafios emergentes na segurança hídrica global, um exemplo dessa intersecção com a segurança ou mesmo a criminalidade internacional é a pirataria marítima que pode representar uma ameaça ao transporte de recursos hídricos em regiões como o Golfo de Aden e o Oceano Índico. Nesse sentido, a atuação de guardas costeiras ou marinhas nacionais como também forças de coalizão para combater a pirataria e garantir a segurança das rotas de transporte desempenha um papel fundamental nos fluxos econômicos logísticos nas “supply chains .

Ainda sobre a importância das informações e dados atualizados, conjuntamente a  aos números e estatísticas relacionados às forças navais, é importante considerar os gastos militares em marinha, o número de navios de guerra, submarinos e capacidades de projeção de poder, bem como relatórios fiscais de Estados sobre número de pagamentos de recursos humanos e até editais de concursos ou meios de recrutamentos sobre recursos humanos, há relatórios e estudos de instituições como o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS) e a Marinha dos Estados Unidos  que fornecem análises detalhadas sobre esses aspectos, para usar como cases. Nesses relatórios, é possível conclusão de que nos últimos anos, observou-se um aumento significativo nos gastos militares navais em várias nações. segundo um dos dados neste case, o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), a China tem aumentado consistentemente seus investimentos em forças navais, visando modernizar sua Marinha e fortalecer sua presença em águas disputadas. Entre 2010 e 2020, os gastos militares navais da China aumentaram em cerca de 90%, alcançando um total de US$ 261 bilhões em 2020, projetando números expressivamente maiores para a próxima década. No comparativo com outras nações, não é diferente pois numa média global, têm-se demonstrado um aumento nos gastos militares navais, a Rússia, por exemplo, tem investido em modernização de suas forças navais, com um foco especial na Frota do Mar Negro e na Frota do Báltico, com base em dado atualizado á partir de 2020, os gastos militares navais da Rússia totalizaram aproximadamente US$ 54,2 bilhões, projetando aumentos expressivos em escalas superiores a 10% em 2021, 2022 e 2023.A outra nação que mantém o orçamentos mais expressivo é os Estados Unidos, em comparativo para consistência de dados iguais, em 2020, o orçamento da Marinha dos Estados Unidos foi de cerca de US$ 206 bilhões, representando aproximadamente 35% dos gastos militares navais globais. Todos esses números e investimentos refletem as prioridades estratégicas e os interesses das nações em relação à segurança hídrica e aos conflitos relacionados à água e o aumento dos gastos militares navais das nações pode ser atribuído à necessidade de proteger seus recursos hídricos tanto para garantir o acesso a rotas marítimas cruciais e fortalecer sua presença em áreas contestadas, como também a importância da segurança hídrica.

Observação muito importante é ressaltar que os gastos militares navais não são exclusivos dessas nações mencionadas, e outros países também estão alocando recursos significativos para suas forças navais, cada um com suas motivações e estratégias específicas, e não apenas com relação a forças navais ao redor do mundo se compõem no plano militar, há também outras forças militares de Estado nessa intercessão.

É também fundamental na análise dos fatores militares no contexto dos conflitos da água requer a compreensão abrangente dos exércitos terrestres e de seu papel na segurança hídrica global e historicamente, diversos teóricos e estudiosos têm explorado essa relação complexa entre as forças terrestres e os recursos hídricos.Segundo um cientista político referência em tais assuntos, John Mearsheimer, em sua obra clássica “A Tragédia da Política de Segurança”, diz que a posse e controle de recursos naturais, incluindo a água, são elementos fundamentais para a segurança nacional. Ele argumenta que as nações buscam garantir o acesso a recursos vitais, como a água, para fortalecer sua posição estratégica e econômica, e os Exércitos terrestres estão imensamente inseridos no uso e a proteção de recursos hídricos têm sido um aspecto importante de suas operações ao longo da história. Para voltar sobre o clássico case, do rio Indo, que flui através do Paquistão e da Índia, a disputa pela água do rio tem sido uma questão central nas tensões entre esses dois países, principalmente com exércitos terrestres altamente desenvolvidos, chegando a várias vezes promoverem escaladas mútuas devido a tensão deste fator, e em várias regiões assoladas por conflitos armados, como o Oriente Médio e partes da África, os exércitos terrestres estão envolvidos na proteção de infraestruturas hídricas críticas, como represas, estações de tratamento e dutos.

Sobre fontes de informação a respeito aos números e gastos militares relacionados aos exércitos terrestres, é importante destacar que as informações podem variar dependendo da região e dos países específicos e dado deve ser relativizado com relação a transparência, afinal, nas Guerras Híbridas e no campo da Inteligência civil e militar, o dado em si têm por muitas vezes valor incomensurável, podendo inclusive no contexto de contra-inteligência – ou como diz em doutrina de inteligência russa – Контрразведка и путаница – bem como o dito gaslighting, em um termo mais “ocidentalizado” – ser usado para incorrer em táticas diversionistas ou mesmo de indução direta ao erro, bem com também ser superlativização no contexto da propagando ou comunicação para fins diversos no conflito ou mesmo operação psicológicas, portanto, o dado negado é quase regra neste contexto. Apesar da escassez de informação, é possível sim inferir á partir de dados recentes que mostram que muitas nações têm investido consideravelmente em suas forças terrestres, refletindo a importância estratégica dos recursos hídricos. Como exemplo central, países como os Estados Unidos, China, Rússia e Índia têm alocado recursos significativos para modernizar e fortalecer suas capacidades militares terrestres e esses investimentos abrangem aquisição de equipamentos avançados, treinamento especializado e desenvolvimento de táticas militares adaptadas às condições geográficas e de recursos naturais de suas regiões. É muito importante ressaltar que esses gastos militares não se limitam apenas aos aspectos ofensivos, mas também incluem a capacidade de proteger e controlar infraestruturas hídricas estratégicas em caso de conflitos relacionados à água e no que diz respeito aos gastos militares relacionados aos exércitos terrestres e às questões da água, é importante observar que as informações podem variar dependendo da região e dos países específicos. No entanto, alguns dados e tendências podem ser destacados fatores como aumento nos gastos militares, como citado anteriormente, onde nos últimos anos, observou-se um aumento nos gastos militares em várias nações, especialmente aquelas envolvidas em disputas territoriais ou recursos naturais , e esse aumento também reflete a percepção de que a segurança hídrica desempenha um papel crucial na estabilidade e no poder nacional. Um dos outros indicadores econômico militares é o investimentos em capacidades anfíbias:

Muitas nações têm investido em capacidades anfíbias, ou seja, a capacidade de realizar operações militares tanto em terra quanto no mar e esses investimentos visam garantir a proteção e o controle de áreas costeiras estratégicas que possuem recursos hídricos significativos e uma alta mobilidade de recursos, inclusive humanos para táticas rápidas visando maior adaptabilidade em áreas transfronteiriças. Outro fator importante é modernização de equipamentos, onde nações como os Estados Unidos, China, Rússia e Índia têm alocado recursos consideráveis para modernizar seus exércitos terrestres e isso inclui a aquisição de veículos terrestres avançados, como ATRs e sistemas de comunicação e inteligência, bem como também armamentos específicos para a defesa e proteção de recursos hídricos sendo muitas vezes implementados em contextos hidrográficos específicos.

Ao analisar o dado ou mesma a informação, é importante ressaltar que os gastos militares e as capacidades dos exércitos terrestres são influenciados por uma série de fatores, como as políticas de defesa nacional, as ameaças percebidas e as estratégias de segurança adotadas por cada país até mesmo contextos políticos ideológicos específicos, alinhamentos diplomáticos, cooperações internacionais ou mesmo capacidade econômica de tal Estado, portanto, é fundamental analisar as especificidades de cada nação para compreender plenamente o panorama dos gastos militares relacionados à segurança hídrica, bem como sua conjuntura interna e internacional.

Além dos fatores das forças navais e terrestres, a análise dos fatores militares na segurança hídrica global e nos conflitos relacionados à água requer uma compreensão abrangente das forças aéreas, satélites e capacidades aeroespaciais. pois esses elementos desempenham um papel crucial na inteligência, iniciando na coleta de informações, vigilância e resposta rápida a potenciais ameaças e eventos relacionados à água. Vários pesquisadores e teóricos têm explorado a importância das forças aéreas e aeroespaciais nesse sentido, fornecendo insights extremamente necessários para compreensão de sua influência nos conflitos da água. Podemos citar, como case o renomado geopolitólogo Robert D. Kaplan em seu livro “The Revenge of Geography”, ele argumenta que a tecnologia aeroespacial desempenha um papel vital na vigilância, monitoramento e projeção de poder em áreas estratégicas, incluindo aquelas com recursos hídricos importantíssimos e no que diz respeito às forças aéreas e aeroespaciais, é importante considerar os gastos militares relacionados a essas capacidades e como eles podem afetar a segurança hídrica global. Alguns números e dados relevantes inferem o aumento dos gastos em tecnologia aeroespacial, onde os últimos anos, tem havido um aumento significativo nos investimentos em tecnologia aeroespacial, como satélites de observação, drones e sistemas de comunicação via satélite. Há programas inteiros em setores de inteligência voltados para isso, como nações como os Estados Unidos há o NRO (National Reconnaissance Office) bem como China, Rússia e França têm liderado esses esforços, visando fortalecer suas capacidades de vigilância e projeção de poder. Nestes programas, há o uso de satélites para monitoramento hídrico, cujos satélites desempenham um papel crucial na coleta de dados sobre os recursos hídricos em todo o mundo, podendo fornecer informações valiosas sobre a disponibilidade de água, qualidade da água, mudanças climáticas e monitoramento de reservatórios e rios, especialmente países como os Estados Unidos, China e Índia têm investido em programas espaciais e de sensoriamento remoto para melhorar sua compreensão dos recursos hídricos e tomar medidas adequadas para sua gestão, criando uma capacidade de obtenção de dado com delay praticamente próximo ao 0 e de taxas de responsividade na inteligência, altíssimas. No papel das forças aéreas na segurança hídrica, as forças aéreas desempenham um papel importante na vigilância e na proteção de infraestruturas hídricas críticas, como barragens, estações de tratamento de água e reservatórios e elas inclusive também podem ser empregadas para fornecer apoio logístico e humanitário em áreas afetadas por desastres naturais relacionados à água.

Conjuntamente a análise dos fatores políticos, econômicos, militares e tecnológicos relacionados à segurança hídrica global e aos conflitos da água exige uma compreensão aprofundada das questões de tecnologia, especificamente aquelas relacionadas ao sensoriamento e monitoramento, como vimos anteriormente, como o uso de tecnologias avançadas nesses campos desempenha um papel crucial na coleta de dados precisos, na identificação de tendências e na tomada de decisões informadas sobre a gestão dos recursos hídricos. Para vários cientistas políticos, economistas e especialistas em geopolítica têm explorado a importância dessas tecnologias e suas implicações nos conflitos da água. Para um especialista que contribuiu para essa área, o renomado cientista político Joseph Nye, que discutiu o conceito de “soft power” em seu livro “Soft Power: The Means to Success in World Politics”. Nye argumenta que o uso de tecnologia avançada, como sensoriamento remoto e monitoramento por satélite, pode fornecer uma vantagem estratégica significativa aos países no contexto dos recursos hídricos e dos conflitos relacionados.Ainda no que importantemente diz respeito às questões de sensoriamento e monitoramento, é importante destacar os avanços tecnológicos e o uso de dados para compreender melhor a segurança hídrica global, podemos ver exemplos de tecnologias e números relevantes  que incluem: o sensoriamento remoto, onde o sensoriamento remoto, por meio de satélites e aeronaves equipadas com sensores especializados, permite a coleta de dados sobre a quantidade e qualidade da água, a detecção de mudanças climáticas e a monitoração de reservatórios e cursos d’água, como citado anteriormente, e essas informações são fundamentais para a tomada de decisões informadas sobre a gestão dos recursos hídricos, além do uso aeroespacial ou de força aérea, países como os Estados Unidos, China, Índia e Brasil têm investido em programas de sensoriamento remoto para melhorar sua compreensão e monitoramento dos recursos hídricos. Neste contexto, o monitoramento em tempo real com o avanço da tecnologia, tornou-se possível monitorar em tempo real o fluxo de água, a qualidade da água e a disponibilidade de recursos hídricos. Sistemas de monitoramento e sensores instalados em rios, lagos e reservatórios permitem a coleta contínua de dados, fornecendo informações instantâneas sobre as condições hídricas, esses avanços são cruciais para a identificação precoce de situações de escassez, poluição ou eventos extremos relacionados à água, neste contexto, ainda, o Big data e análise de dados bem como a  coleta maciça de dados relacionados à água, combinada com avanços em análise de dados e inteligência artificial, permite uma compreensão mais aprofundada dos padrões, tendências e previsões relacionadas à segurança hídrica global. A análise de big data desempenha um papel importante na identificação de problemas, na tomada de decisões e na formulação de políticas eficazes para garantir a gestão sustentável dos recursos hídricos. Essas tecnologias de sensoriamento e monitoramento oferecem uma visão mais precisa e abrangente da segurança hídrica global. A capacidade de coletar dados em tempo real e analisá-los adequadamente auxilia na identificação de desafios e na implementação de medidas preventivas para mitigar conflitos relacionados à água.

Ao analisarmos a tecnologia no contexto de produção tecnologia também como recurso na Teoria da Guerra de Recursos  é preciso entender também a complexidade da produção tecnológica e científica, bem como na análise dos fatores políticos, econômicos, militares e tecnológicos que influenciam a segurança hídrica global e os conflitos relacionados à água, um ativo tecnológico essencial na modernidade é o advento dos hardwares, onde é fundamental considerar as questões da chamada “guerra dos chips”.Esse termo refere-se à disputa geopolítica e econômica entre nações pelo controle e domínio da tecnologia dos semicondutores, que são componentes essenciais em uma ampla gama de dispositivos eletrônicos e sistemas militares. A guerra dos chips tem implicações significativas para a segurança hídrica global, uma vez que muitas das tecnologias utilizadas no monitoramento, controle e gerenciamento dos recursos hídricos dependem desses semicondutores avançados. É crucial compreender como essa disputa afeta as capacidades tecnológicas e militares relacionadas à água. No campo dos cientistas políticos e especialistas em geopolítica, vários nos últimos anos têm se dedicado ao estudo da guerra dos chips e suas implicações. Richard A. Bitzinger, renomado especialista em economia de defesa e indústria militar, discute em seu livro “Arms and Innovation: Entrepreneurship and Alliances in the Twenty-First Century Defense Industry” as complexidades e desafios enfrentados pelas nações na busca por liderança na indústria de semicondutores e seus impactos no campo militar.É importante mencionar que a guerra dos chips tem levado a um aumento significativo nos investimentos em pesquisa e desenvolvimento nessa área, bem como na ampliação das capacidades de produção de semicondutores em diversos países, para alguns números e dados relevantes incluímos: Gastos em pesquisa e desenvolvimento: nações como os Estados Unidos, China, Japão, Coreia do Sul e Taiwan têm aumentado substancialmente seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias de semicondutores. A competição entre esses países têm impulsionado a inovação e o desenvolvimento de novas capacidades nessa área.Bem como a expansão da capacidade de produção para reduzir a dependência de fornecedores estrangeiros, várias nações estão buscando expandir suas capacidades de produção de semicondutores. Isso envolve a construção de novas fábricas e o incentivo à indústria local. Países como a China e os Estados Unidos têm implementado políticas para estimular o crescimento de sua própria indústria de semicondutores. E no sentido econômico mais “puro” as disputas comerciais e geopolíticas, onde a guerra dos chips também está associada a disputas comerciais e geopolíticas entre as nações. Restrições comerciais, tarifas e medidas de segurança cibernética estão sendo implementadas para proteger interesses estratégicos e garantir o acesso a tecnologias críticas. É importante compreender que a guerra dos chips tem implicações complexas e abrangentes, afetando não apenas a segurança hídrica global, mas também outras áreas estratégicas pois a capacidade de controlar e desenvolver tecnologias avançadas de semicondutores é considerada fundamental para aprimorar as capacidades militares e a competitividade econômica das nações e também segurança hídrica global e os conflitos relacionados à água deve considerar a interseção entre a guerra dos chips, a disputa por recursos naturais estratégicos e a proteção de patentes, alguns recursos minerais específicos, como nióbio, silício e lítio, desempenham papéis importantes nesse contexto. Os recursos minerais estratégicos também têm sido objeto de disputas geopolíticas e conflitos ao redor do mundo. O nióbio, por exemplo, é um metal utilizado na produção de ligas de aço de alta resistência, sendo essencial para a indústria aeroespacial e de defesa. Países como o Brasil possuem reservas significativas de nióbio, o que os coloca em uma posição estratégica na cadeia de suprimentos global, ou também o silício como um elemento fundamental na fabricação de semicondutores e painéis solares, desempenhando um papel crucial na guerra dos chips e na busca por tecnologias sustentáveis de energia, além disso, o lítio é um componente-chave nas baterias de íon-lítio, amplamente utilizadas em dispositivos eletrônicos, veículos elétricos e sistemas de armazenamento de energia.Essa disputa, por recursos naturais estratégicos, como nióbio, silício e lítio, está intrinsecamente ligada à segurança hídrica global e muitas vezes, a exploração desses recursos requer o uso intensivo de água, levando a desafios ambientais e potenciais tensões entre as nações que os possuem.

Outra questão, é a questão das patentes, que desempenha um papel fundamental na guerra dos chips e na proteção de tecnologias relacionadas aos recursos hídricos. Empresas e nações competem para patentear e proteger suas inovações tecnológicas, buscando vantagens competitivas e controle sobre o acesso a determinadas tecnologias e a disputa por patentes pode impactar a transferência de conhecimento e tecnologia entre países, influenciando o desenvolvimento de capacidades militares e a cooperação internacional no campo da segurança hídrica, conclui-se que na análise conjunta da guerra dos chips, a disputa por recursos naturais estratégicos e a proteção de patentes revela a complexidade e a interconexão dos fatores que influenciam a segurança hídrica global e os conflitos relacionados à água e a compreensão dessas dinâmicas é essencial para uma abordagem abrangente e eficaz na busca por soluções sustentáveis e pacíficas nessa área.

  • Breve discussão das mudanças climáticas e seus efeitos nos recursos hídricos, agravando os conflitos existentes.

Continuando com os fatores sensíveis na análise dos conflitos pela água, adentramos a relação entre as mudanças climáticas e a segurança hídrica global que tem sido objeto de crescente preocupação e estudo por parte de acadêmicos e especialistas em diferentes campos de conhecimento e é extremamente fundamental a compreensão dos efeitos das mudanças climáticas nos recursos hídricos para avaliar os desafios futuros que enfrentaremos e que já enfrentamos nos conflitos relacionados à água. Cientistas políticos, ambientalistas, climatologistas e especialistas em recursos hídricos dedicam-se mais incisivamente após os anos 60 a investigar os impactos das mudanças climáticas nos sistemas hídricos em todo o mundo. Destacam-se em tal campo acadêmicos renomados como, Dr. Hans Joachim Schellnhuber, Cientista climático alemão, fundador do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático (PIK), que tem realizado estudos sobre os efeitos das mudanças climáticas nos recursos hídricos, especialmente em regiões vulneráveis. Dra. Patricia Wouters, especialista em direito internacional da água, tem se dedicado a analisar como as mudanças climáticas afetam os acordos e as políticas relacionadas à gestão dos recursos hídricos em nível global. Dr. Jay Famiglietti, hidrologista e professor de ciências da Terra, que tem se concentrado em pesquisas que exploram a interação entre as mudanças climáticas e a disponibilidade de água em áreas críticas, como as bacias hidrográficas do Oriente Médio e da Califórnia. Esses são apenas cases acadêmicos e muitos outros têm contribuído significativamente para a compreensão dos efeitos das mudanças climáticas nos recursos hídricos, evidenciando como essas mudanças têm agravado os conflitos existentes em torno da água.

Começamos por relembrar a questão do Antropoceno e seus efeitos e pelo fato de que nos últimos anos, observou-se um aumento nas temperaturas médias globais, bem como mudanças nos padrões de precipitação e derretimento de geleiras, impactando diretamente a disponibilidade e a qualidade dos recursos hídricos em diversas regiões, a escassez de água, as secas prolongadas e os eventos climáticos extremos, como enchentes e tempestades intensas, têm se tornado mais frequentes e intensos. Longe do prisma futurista, é importante atenção ao presente – essas alterações climáticas já têm acentuado as tensões e os conflitos relacionados à água, uma vez que a demanda por recursos hídricos cresce em resposta ao aumento populacional e ao desenvolvimento socioeconômico e a competição por acesso a água potável, irrigação agrícola, geração de energia e outros usos torna-se mais acirrada, gerando desafios significativos para a segurança hídrica global.

Já existem evidências sólidas de que as mudanças climáticas estão intrinsecamente relacionadas ao provável aumento dos conflitos pela água em todo o mundo, e ao longo das últimas décadas, pesquisas científicas têm revelado os impactos significativos das mudanças climáticas nos recursos hídricos, criando condições propícias para o surgimento e a intensificação de conflitos relacionados à água. Citamos que diversos estudos têm demonstrado uma série de evidências que ligam as mudanças climáticas ao aumento da escassez de água, à degradação dos ecossistemas hídricos e ao agravamento dos conflitos existentes, dentre estes fatos de aumento de conflito, evidencia-se o aumento da demanda por água, onde à medida que as temperaturas globais aumentam, a demanda por água para fins domésticos, agrícolas e industriais também aumenta. A escassez de água potável resultante desse aumento da demanda exerce pressões consideráveis sobre os recursos hídricos disponíveis, o que pode levar a conflitos entre diferentes usuários e setores. As secas e diminuição da disponibilidade de água, pois as mudanças climáticas têm sido associadas a um aumento na frequência e na intensidade de secas em muitas regiões. A diminuição da disponibilidade de água devido à falta de precipitação e ao derretimento acelerado das geleiras afeta negativamente a segurança hídrica, aumentando as tensões entre comunidades, setores econômicos e até mesmo países. Também, outro fator é a variação nos padrões de chuva onde as mudanças climáticas também têm impacto nos padrões de chuva, levando a uma distribuição irregular e imprevisível da precipitação e isso pode resultar em inundações repentinas em algumas áreas e secas prolongadas em outras, agravando as disputas pela água e acentuando as desigualdades socioeconômicas. Na abrangência dos fatores climáticos e a questão econômica e a disponibilidade de recursos, o acesso desigual aos recursos hídricos, pois as mudanças climáticas tendem a afetar de maneira desproporcional as comunidades vulneráveis e marginalizadas, populações essas que já enfrentam desafios relacionados à pobreza, desigualdade social e falta de infraestrutura adequada são particularmente prejudicadas pelas consequências das mudanças climáticas nos recursos hídricos. Essa desigualdade de acesso aos recursos hídricos pode levar a tensões sociais e conflitos locais. Citadas tais evidências destacam a estreita relação entre as mudanças climáticas e o aumento dos conflitos pela água, parte da solução será a compreensão desses efeitos, que é essencial para desenvolver estratégias de mitigação e adaptação que possam promover a segurança hídrica global e reduzir as tensões resultantes das mudanças climáticas.

As mudanças climáticas em intersecção mais uma vez com a política e a economia, vimos que tais fatores estão intrinsecamente ligados ao aumento dos conflitos pela água, tendo impactos significativos nos setores econômicos que dependem desse recurso vital. Setores como agricultura, sendo a atividade agrícola   um dos setores mais afetados pelas mudanças climáticas, pois depende diretamente da disponibilidade de água para irrigação e produção de alimentos e a  escassez de água devido a secas prolongadas ou padrões de chuva irregulares afeta a produtividade agrícola e pode levar a conflitos entre comunidades agrícolas. Como um case, em regiões como o Oriente Médio e o norte da África, onde a água já é um recurso escasso, as mudanças climáticas estão exacerbando as disputas pela água entre agricultores. Setores da indústria, onde diversos setores industriais dependem do acesso a recursos hídricos para suas operações, como a indústria de alimentos e bebidas, a indústria química e a indústria de mineração e a escassez de água afeta a produção e o fornecimento de matéria-prima, levando a interrupções nas cadeias de suprimentos e impactando negativamente a economia. Um case é o setor de mineração, que requer grandes volumes de água para processos de extração e beneficiamento de minerais. A redução da disponibilidade de água devido às mudanças climáticas pode afetar a produção e gerar conflitos com comunidades locais que dependem desses recursos. Setor energético onde a geração de energia também é fortemente impactada pelas mudanças climáticas, tanto pela disponibilidade de água para usinas hidrelétricas quanto pelo resfriamento de usinas termelétricas e principalmente as secas prolongadas podem reduzir a capacidade de produção de energia hidrelétrica, levando a cortes de fornecimento e aumentando as disputas pela água entre diferentes setores, como o agrícola e o energético e impactando em vários outros setores da economia e  também, além do citado anteriormente, há o resfriamento de usinas termelétricas e nucleares, que requerem grandes quantidades de água e a escassez desse recurso pode limitar a capacidade de geração de energia ou mesmo em incorrer a incidentes de segurança extrema. Um case destes fatores e dos conflitos entre setores pela água é o caso da Califórnia, nos Estados Unidos, que enfrentou restrições de energia devido a secas e disputas pela água entre agricultores e setor energético. Também, o abastecimento público, pois o setor de abastecimento de água potável para a população é afetado pelas mudanças climáticas de várias maneiras, sendo redução da disponibilidade de água devido a secas e a deterioração da qualidade da água devido a enchentes e eventos climáticos extremos aumentam os desafios enfrentados pelas empresas de saneamento e podem levar a conflitos entre diferentes usuários e comunidade, além de serem conflitos potenciais entre setores. Um case é o da Cidade do Cabo, na África do Sul, que enfrentou uma crise hídrica significativa em 2018 devido a uma seca prolongada, resultando em restrições de água, e conflitos e tensões entre os moradores. Esses, portanto, são apenas alguns exemplos dos setores econômicos impactados pelas mudanças climáticas e o aumento dos conflitos pela água é  importante destacar que as evidências científicas e os dados estatísticos sustentam essas relações, mostrando os efeitos adversos das mudanças climáticas nos recursos hídricos e sua influência nos conflitos socioeconômicos. É evidente que o aumento dos conflitos pela água tem um impacto significativo nos setores econômicos, como exaustivamente refletido, , então a escassez de água afeta a produção agrícola, a indústria de alimentos, a geração de energia hidrelétrica e outras atividades econômicas dependentes da água geram prejuízos além dos setores da economia vão adentrando ao setores financeiros – estudos indicam que o impacto econômico  financeiros das mudanças climáticas nos recursos hídricos pode ser substancial, com estimativas de bilhões de dólares em perdas anuais, como case a redução da disponibilidade de água no Corno de África tem impactado negativamente a produção agrícola e gerado instabilidade econômica na região.

Além dos impactos socioeconômicos e econômicos, bem como citados anteriormente, as mudanças climáticas nos Estados nações e as questões relacionadas à água também têm implicações jurídicas, em áreas específicos dentro do direito e dos órgãos internacionais dedicados a lidar com essas questões, afinal, há em concreto no direito como as mudanças climáticas têm influenciado o aumento dos conflitos pela água, bem como as evidências e estatísticas que respaldam essas relações.

No âmbito do direito Internacional da água, como o direito internacional da água é um campo jurídico que trata das questões relacionadas à água em âmbito global, os tratados e convenções internacionais têm como objetivo promover a cooperação na gestão e no uso sustentável dos recursos hídricos compartilhados entre países, entretanto, as mudanças climáticas estão intensificando os desafios enfrentados pelos países na gestão da água, levando a disputas e conflitos que muitas vezes são imprevisíveis do plano das resoluções, onde case mais uma vez é a Bacia do Rio Nilo, e países ribeirinhos enfrentam tensões crescentes devido à escassez de água e às mudanças nos padrões de fluxo causados pelas alterações climáticas. No direito ambiental, onde aborda a proteção e conservação dos recursos naturais, incluindo a água, e é necessário observância máxima a mudanças climáticas que têm levado a uma maior conscientização sobre a necessidade de proteger os recursos hídricos e garantir sua sustentabilidade. As legislações ambientais têm buscado regular o uso e a gestão da água, bem como promover medidas de adaptação às mudanças climáticas, um case, o Brasil que implementou a Política Nacional de Recursos Hídricos, que estabelece diretrizes para a gestão integrada dos recursos hídricos e considera os impactos das mudanças climáticas nesse contexto. Ainda no plano do direito, a busca por soluções heterodoxas do plano institucional, também se inserem tribunais e arbitragem, pois em casos de disputas relacionadas à água, os tribunais e processos de arbitragem podem desempenhar um papel importante na resolução de conflitos e os litígios podem surgir entre Estados, entre Estados e atores não estatais ou entre diferentes partes interessadas em uma bacia hidrográfica, sendo assim mudança dos padrões de disponibilidade hídrica devido às mudanças climáticas pode aumentar a probabilidade de conflitos e, consequentemente, o número de casos levados a tribunais ou processos de arbitragem, um case é entre a Eslováquia e a Hungria sobre o uso e a gestão do Rio Danúbio, no qual as mudanças climáticas têm sido uma das preocupações levantadas pelas partes envolvidas.

Os casos e inferências acima destacam como as mudanças climáticas estão intrinsecamente ligadas aos aspectos jurídicos e institucionais relacionados à água.  No plano da validação epistemológica e científica, as evidências e estatísticas dessas relações são amplamente documentadas em relatórios científicos e estudos acadêmicos, levando a compreensão que as mudanças climáticas estão intrinsecamente relacionadas ao aumento dos conflitos pela água, e tanto os aspectos tecnológicos quanto os institucionais desempenham um papel crucial na mitigação e prevenção desses conflitos. Neste plano, é importante observância sobre as informações relacionadas ao impacto das mudanças climáticas onde diversas evidências científicas apontam que as mudanças climáticas têm contribuído para a escassez de água em várias regiões do mundo, como o aumento da temperatura global resulta no derretimento das geleiras, diminuição da disponibilidade de água doce e alteração nos padrões de precipitação, afetando a disponibilidade de água potável, agricultura, indústria e ecossistemas, sendo um case notável o derretimento acelerado do gelo nas regiões polares, como a Antártida e o Ártico, que está causando elevação do nível do mar e ameaçando as comunidades costeiras. Também as informações com relação a necessidade de previsibilidade pois a incerteza em relação aos padrões climáticos futuros torna essencial o investimento em tecnologias e instituições que possam prever e mitigar os impactos das mudanças climáticas nos recursos hídricos, bem como algoritmos computacionais, matemáticos e modelos climáticos avançados associados a sistemas de monitoramento e previsão meteorológica, e infraestruturas de armazenamento e distribuição de água são exemplos de tecnologias que podem ajudar na previsibilidade e na gestão adequada dos recursos hídricos, sendo essas essas medidas são fundamentais para prevenir conflitos futuros relacionados à escassez de água.

Portanto, é extremamente necessário investimento institucional pois a  gestão eficiente dos recursos hídricos requer instituições robustas, políticas claras e mecanismos de cooperação entre países e partes interessadas, como a criação de marcos regulatórios, acordos internacionais e organizações dedicadas à gestão dos recursos hídricos que são essenciais para enfrentar os desafios das mudanças climáticas, um case notável neste sentido é a Comissão Internacional de Irrigação e Drenagem (ICID), que promove a cooperação global na gestão dos recursos hídricos para agricultura e desenvolvimento sustentável.

É evidente, de maneira exaustiva e com indícios sólidos, que as mudanças climáticas estão ampliando os conflitos pela água em todo o mundo e para lidar com esse desafio, é necessário investir em tecnologias avançadas, como sistemas de previsão e monitoramento, além de fortalecer as instituições responsáveis pela gestão dos recursos hídricos e somente por meio de uma abordagem multidisciplinar, envolvendo ciência, tecnologia, instituições e cooperação internacional, poderemos mitigar os impactos das mudanças climáticas nos recursos hídricos e evitar o agravamento dos conflitos existentes, do plano dos Estado nacionais, é necessário portanto investimento maciço no setor de inteligência para coordenação dessas informações, dados, projeções e sobretudo como produtos confiáveis e assertivos para tomada de decisão, em um tempo cada vez menor.

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Lucas Tonaco – secretário de Comunicação da FNU, dirigente do Sindágua-MG, acadêmico em Antropologia Social e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

 

 

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