Imagine você chegar ao trabalho disposto a cumprir suas atividades diárias e naturais à sua função na empresa e, de repente, alguém lhe comunicar que você está despedido(a). No outro dia você tem seu plano de saúde bloqueado e já é tratado como ex-empregado em todos os sentidos. Todo o seu projeto de vida em andamento, a segurança de sua família, são de imediato travados. O caos parece iminente. A única certeza passa a ser a incerteza do amanhã. Para alguns essa situação pode parecer absurda, mas esta tem sido a realidade enfrentada por diversos trabalhadores da Cemig.

Na última semana foi feita mais uma vítima na Usina de Itutinga. Uma base histórica de muitas lutas e de enfrentamentos que ajudou a construir as conquistas da categoria eletricitária ao longo de muitas campanhas vitoriosas para essa classe.

Enquanto pessoas que foram indiciadas por crimes pela CPI da Cemig, instalada na ALMG, na condução de diversos processos na empresa, encontram-se nos seus cargos sem qualquer incômodo por parte do governo Zema e da própria estrutura de gestão que conduz a estatal; até mesmo porque o próprio presidente da empresa, Reinaldo Passanezi, encontra-se nesse rol de comprometidos na CPI.

Por outro lado, estão sendo desenvolvidas narrativas caluniosas, forjadas e humilhantes para justificar a demissão de trabalhadores dos quadros técnicos da Cemig. Mas para a gestão Zema, que conduz a Cemig nos dias atuais, não basta demitir, os atos têm que ser implementados da forma mais cruel, humilhante, degradante da moral do trabalhador, com condições de atingi-lo não só na relação de trabalho, mas na sua dignidade como pessoa humana e obreira geradora das riquezas que alimentam de PLRs gordas os bolsos desses que orquestram tais perversidades massacrantes.

O ambiente de trabalho da Usina de Itutinga já tem se mostrado, há algum tempo, como um verdadeiro celeiro de adoecimentos. Não obstante ao que já vem ocorrendo em diversas bases da Cemig, em Itutinga é de destacar relatos de afastamentos e reclamações de trabalhadores diante dessa política de pessoal estabelecida, que ignora a segurança, a saúde e as condições necessárias à dignidade do trabalhador como pessoa humana, centralizando esforços apenas na geração de dividendos para os usurpadores do mercado que dão as cartas nessa relação.

Nesse ambiente impuro e torturante, não seria possível que tais métodos inóspitos fossem implementados sem os ‘capitães do mato’ que ficam na ponta para executar as ações rasas que dão origem aos fatos consumados. Uma figura conhecida, como o senhor Demétrio Alexandre Ferreira, que já no passado, quando ainda era gerente do local, eram frequentes os relatos de suas ameaças e perseguição a trabalhadores a fim de manter sua gestão de horrores, agora este, já promovido na condição de superintendente, apenas ganhou mais suporte para destilar seu veneno contra os divergentes. Na mesma linha segue seu substituto, William Serrano Amorim, que reza na mesma cartilha e orientação. Estranho que na Cemig quanto pior para os trabalhadores, melhor para a gestão; não é à toa essa premiação feita pelo capital àqueles que esfolam os iguais.

A Cemig tem recompensado esses “gestores” com PLR’s suntuosas em troca do sacrifício da vida de muitos daqueles que realmente contribuem para a geração dessas riquezas. A última bolada paga aos diretores foi de R$ 500 mil e superintendentes e gerentes vêm logo abaixo, com suas pequenas fortunas garantidas através de acordos específicos e secretos.

A demissão arbitrária e com práticas de crueldade utilizadas por essa gestão vão além dos efeitos aparentes sobre o trabalhador vítima. Esse tipo de construção macula de insegurança ao coletivo da base envolvida, permeia de sofrimento os companheiros sabedores das injustiças praticadas e coloca em xeque a lisura dos processos e relações de respeito entre empresa e trabalhadores. Só a unidade e solidariedade a quem está exposto a essas ações poderão construir uma nova relação de segurança e respeito. Só a mobilização poderá contrapor à má fé desses que hoje conduzem com mãos de ferro a relação com os trabalhadores, e fazem vistas grossas às irregularidades explícitas e comprovadas em benefício aos aliados.

Edvaldo Pereira da Silva, Coordenador da Regional Mantiqueira do Sindieletro/MG