Exaltando o fim da bandeira da escassez, é hora de refletir profundamente sobre números do setor elétrico. A tarifa é hoje uma das mais caras do planeta em relação à renda média. Um pouco de curiosidade revela misteriosos valores.

Começando pelas nossas tomadas, o Brasil fez uma mudança exigindo um padrão inédito. Adotamos conectores embutidos e até um terceiro pino para aterramento, o “pino nada”, pois a maioria dos consumidores não tem a fiação para essa função. Bolaram um padrão para 20 e 10 Amperes ao invés de apenas um. Ora, a transmissão da corrente depende da área de contato dos pinos. O de 10 A tem 4 mm de diâmetro, mas o de 20 A não tem 8 mm, mas 4,8, apenas 20% a mais. Evidente que bastaria apenas um formato para atender à exigência de segurança. Mas, para a alegria dos fabricantes e irritação dos consumidores, os adaptadores deram um jeito.

A bandeira da escassez soa módica noticiada para cada 100 kWh. Quando se usa a unidade praticada no planeta, o MWh (1000 kWh), começam a surgir comparações bizarras. O que significa pagar R$ 142/MWh em relação a outros valores do setor? Os leilões A-3 e A-4 de 2021 mostram investidores assegurando vender energia eólica e solar por menos de R$ 130/MWh. Ou seja, a bandeira de escassez está pagando previamente valores da energia de novas usinas. Se isso não é um indício de que não está havendo investimento suficiente, estamos mal de entender sintomas.

A “escassez”, ecoa como uma tragédia e, geralmente, São Pedro leva a culpa, pois isentam-se todos os outros fatores que podem esvaziar reservatórios e fica mais fácil cobrar do consumidor. Mas essa escassez é inédita? Claro que não! Ela foi pior do que a do racionamento de 2001, mas no registro histórico de 91 anos das vazões, quando comparada ao “período crítico”, de 1949 a 1956, os anos 2014 – 2021 são apenas 0,4% mais secos. (Ver gráfico). Sequer há a desculpa de esquecer essa seca do século passado porque ela é parte essencial do modelo. Apesar de óbvio, tenho que repetir que reservatórios também se esvaziam se não há investimento adequado para a evolução do consumo.

Leia a matéria do diretor do Instituto Ilumina, Roberto Pereira d’ Araújo, clicando no link abaixo.

https://www.ilumina.org.br/as-contas-oclusas-do-setor-eletrico/