A luta contra a ditadura até os anos de 1980 nos ofereceu uma nova forma de pensar a cidadania e nos brindou com a Constituição de 1988, que se não foi a legislação dos nossos sonhos, ao menos nos posicionou como um país democrático e livre, adotando uma postura que garantia os direitos do povo após décadas do terror golpista implantado em 1964.

Mas, apesar de uma constituição robusta, que dava aos cidadãos brasileiros o cumprimento de suas diretrizes, os governos que vieram trataram de dar continuidade aquilo que existe no Brasil desde que nos entendemos como país: o servilismo, a subalternidade, o fisiologismo e o alinhamento aos interesses internacionais predatórios.

Foram nos governos Lula e Dilma que tivemos, de fato, as garantias constitucionais respeitadas e que a soberania do país foi alcançada, ainda que com algumas restrições, já que muitos dos fundamentos da Constituição Federal dependiam de leis complementares.

Podemos dizer que Lula e Dilma foram no início dos anos 2000 do século XXI o que Vargas foi no início do século XX, mesmo que tenhamos discordâncias ou críticas aos seus modelos de governo. Ficou demonstrado por eles que a economia de um país precisa conviver com sua soberania e o incremento do Estado para que trabalhadores, empresários, governos estaduais e municipais possam ter condições e estímulo para tocar suas vidas. Com empregos, bons salários, infraestrutura, financiamento e impostos justos que deem conta de proporcionar aos cidadãos brasileiros aquilo que a Constituição determina.

E não há como fazer isso sem o serviço público e sem empresas estatais que fomentem o desenvolvimento.

Até 2013 estávamos nesse espiral e poderíamos ter continuado na mesma linha, se, as mesmas elites de sempre, não tivessem manobrado através do judiciário, da mídia corporativa e do parlamento uma nova forma de golpe, num formato parecido com o de 64, bradando contra a corrupção que eles próprios constroem por dentro dos alicerces carcomidos do poder que moldaram comprando e vendendo pessoas e subjugando instituições.

Assim, mais uma vez, temos no Brasil o mesmo contexto que a partir do golpe de 1964, com todos os seus contornos ditatoriais e os alinhamentos geopolíticos com os EUA, que fizeram do Brasil um país subalterno.

Uma elite privatista e extrativista predadora, que perverte o tripé econômico através da evasão de divisas que acontece desde a década de 1960, estruturando a sociedade numa hierarquização cultural e econômica, que mata tudo que é viável para o desenvolvimento do país.

Com a globalização, essas elites perderam suas características nacionais e se transformaram em rentistas estrangeiros dentro do país. Não se importam em produzir, querem lucrar, ainda que esse lucro seja realizado através de fraudes contábeis e panaceias fiscais, que prejudicam o país e colocam o dinheiro na mão de poucos.

É essa gente que Bolsonaro e Guedes representam. É com essa gente que os militares e alguns membros do judiciário almoçam e jantam. É a essa gente que a mídia corporativa dá as mãos.

Não é em vão que querem privatizar tudo. Um país como o nosso, com tantas riquezas e empresas públicas lucrativas, é um paraíso para essas elites se locupletarem.

A grande questão é como nosso povo irá sobreviver acreditando que o que eles dizem está certo, que o governo tem que ser pequeno e que tudo que é público não vale nada?

Como nosso povo irá sobreviver sem saber que a sua luz será mais cara com a privatização da Eletrobrás? Como nosso povo pode entender a falta que faz um sistema Petrobrás que deveria controlar os preços da gasolina, óleo diesel e gás de cozinha e não o faz? Como nosso povo pode viver sem as escolas públicas, sem as universidades públicas, sem hospitais públicos, que deem o atendimento que a população precisa? Como pequenos empresários e pequenos agricultores responsáveis, por 70% da alimentação que temos em nossas casas, podem viver sem incentivo financeiro dos bancos públicos?

O caminho não é o privado. Principalmente porque esse privado manipula de forma artificial o mercado, com a conivência do Banco Central, para que “investidores estrangeiros”, que um dia foram brasileiros, ganhem muito dinheiro à custa da desgraça do povo.

A pandemia da COVID-19 mostrou a importância de valorizarmos nosso serviço público e nossas empresas estatais. Um país que não investe em suas riquezas, em sua soberania e em seu povo não pode ser chamado de nação.

E é por isso que digo: quero uma nação brasileira. Não quero mais a privataria que nos arrebanhou a Vale do Rio Doce e nos tirou tantas possibilidades.

Para terminar, quero dizer que moro no estado do Rio de Janeiro, um estado que já foi a capital do Brasil e que, por isso mesmo, possui um manancial de riquezas que as empresas estatais e públicas que aqui estão vem produzindo há algum tempo. Nosso estado e o Brasil não vão sobreviver sem elas. Quando nada mais houver a ser vendido o que o governo fará? Com que investimento irá promover o desenvolvimento? Com que dinheiro irá proporcionar serviços à população. Com capital privado? Ora, não nos chamem de idiotas. Todas as privatizações até hoje mostram que quem se beneficiou não foi o povo e sim os mesmos que há anos sugam o país.

Assim, exorto a todos e todas que estejam conosco nesse dia 16 de julho, para que possamos exercer nossa cidadania e defender o que é nosso. O estado do Rio de Janeiro precisa de investimentos públicos! Lutemos por isso e para que o Congresso Nacional revogue a Emenda Constitucional 95 que está destruindo a capacidade produtiva de todos os estados brasileiros que devem obedecer a Constituição Brasileira e proporcionar a seus cidadãos o que ela preconiza.

O Público é bom! O Público é para Todos!

Por Lígia Deslandes, Secretária-Geral da CUT Rio