A partir de 23 de janeiro, o Sindieletro traz para você, eletricitário e eletricitária da Cemig, uma série com um balanço sobre a nossa Campanha pela renovação do ACT 2017/2018. Depois da primeira proposta apresentada pela empresa, e que foi
rejeitada em mesa por todos os sindicatos, muita água passou por baixo da ponte.
Foram cinco meses de uma Campanha duríssima. Tivemos paralisação, mobilizações, fechamento do prédio da Itambé, inúmeras cobranças e rodadas de negociações. Nesse período, realizamos centenas de assembleias deliberativas para definir os nossos passos. E foi partir delas, ouvindo e respeitando a voz e a vontade dos mais de 4.000 votos, que pudemos seguir até o fechamento do nosso Acordo.
Por trás de cada braço que se levantou nas assembleias existe um homem ou uma mulher, um representante da classe trabalhadora que deve ter seus direitos e conquistas respeitados. A nossa luta e resistência vêm daí, companheiros e companheiras. Vêm de vocês, eletricitários. Confira abaixo a entrevista do coordenador Geral do Sindieletro, Jefferson Silva, com a primeira entrevista da série “Nosso acordo, nossa luta”.
Jefferson, como você avalia o último período de negociações coletivas com a Cemig?
Em primeiro lugar, acho que não somente eu, mas todos os trabalhadores e trabalhadoras da Cemig, temos a clareza de que a cada ano que passa está mais difícil a negociação do Acordo Coletivo de Trabalho. E falo difícil no nível da disputa mesmo, dos ataques que a empresa e o governo do Estado orquestram para tentar ganhar em cima do nosso ACT.
Em 2015, por exemplo, no primeiro ano de mandato de Pimentel, tivemos a greve de 54 dias, a maior da história da categoria eletricitária. Fruto dessa luta, conquistamos aumento real e impedimos a retirada de direitos. Em 2016, com o fim da sentença normativa que vigorava desde 2012, nosso desafio foi garantir a manutenção dos nossos direitos e conquistas na forma de um novo ACT. Lutamos, resistimos e barramos a pauta da empresa, que era de arrancar R$ 300 milhões do nosso Acordo.
Agora, em 2017, com a entrada em vigor da “Deforma Trabalhista”, outra pedreira: fazer frente ao programa de retirada de direitos e ataques à classe trabalhadora, promovido pelo governo golpista, ao mesmo tempo em que lutávamos contra as investidas da gestão da Cemig e do governo Pimentel para nos impor mais perdas. E vencemos esta também.
A partir da sua fala, você considera que a agenda golpista do governo Federal foi apropriada pela gestão Cemig?
Não foi porque o Sindieletro e grande parte da categoria lutaram muito! Veja bem, há anos temos denunciado que o programa neoliberal implantado pelos tucanos na Cemig encontrou guarida na gestão de Fernando Pimentel. Que as práticas da empresa continuam as mesmas, com uma notável piora das políticas de RH com as demissões arbitrárias, agressivos planos de PDV, redução de custo operacional, aumento dos salários do presidente, diretoria e Conselho de Administração, as arbitrárias readaptações e sindicâncias e a precarização nos processos de trabalho.
Não há dúvidas de que a Cemig, no governo Fernando Pimentel, aprofundou a política neoliberal na perspectiva da “financeirização” e das difíceis negociações do ACT, numa gestão de pessoas pior que a gestão do PSDB.
Sobre a agenda golpista, basta lembrar que no dia 10 de novembro do ano passado, na segunda proposta da empresa [aprovada por vários sindicatos], a cláusula nº 55, que versava sobre Garantia de Emprego e PDV, veio com um texto explícito da nova legislação, prevendo “quitação plena e irrevogável dos direitos decorrentes das relações de trabalho” para o trabalhador que assinar PDV. E alguns dirigentes de sindicatos que assinaram essa proposta ainda falam por aí que protegeram os trabalhadores dos efeitos da Reforma.
Com relação à Campanha de 2017, na figura de coordenador do Sindieletro, como você avalia todo o processo?
Olha, foi uma Campanha bastante intensa. Como disse no início, cada ano tem sua peculiaridade. Em 2017, creio, a grande lição que fica é de reafirmar que a luta e a resistência valem a pena. É gratificante ver o nível de engajamento da categoria crescer a cada desrespeito por parte da empresa ou do governo, com cada proposta que vinha com retirada de direitos sendo massivamente rejeitada pelos trabalhadores e trabalhadoras.
Foi por isso que conseguimos avançar e fechar um Acordo sem retirada de direitos ou influenciado pela Reforma Trabalhista. Foi a partir da mobilização da categoria, dos mais de 4.000 votos em mais de 200 assembleias realizadas em todo o Estado.
Para se ter uma ideia, durante uma semana de assembleias, alguns diretores chegaram a rodar mais de 1.500 quilômetros de carro para poder ouvir e fazer o debate franco e transparente nas bases. Mas vale o esforço. Vale cada centímetro que percorremos.
No início da campanha havia um sentimento de unidade entre os sindicatos, justamente pelo fator “Reforma Trabalhista”. Com a aceitação da proposta do dia 10/11/2017 pelas outras entidades, qual foi o impacto na campanha?
O fechamento de acordo pelos outros sindicatos traz uma fragilidade para a luta. Talvez, se estivéssemos numa campanha unificada de verdade, teríamos fechado um acordo antes, em novembro, dezembro, ou até com uma proposta melhor.
Mas, para além da fragilidade, a categoria tem que refletir sobre a escolha dessas entidades e sobre a perspectiva do que é representação sindical. Para nós, do Sindieletro, é um absurdo fechar um acordo com retirada de direitos e, mais grave, com o texto da quitação plena de direitos, que materializa o programa golpista contra a classe trabalhadora.
No fim, então, valeu a pena toda a luta?
É claro que sim. Foi desgastante, no sacrifício, mas o resultado tá aí: um Acordo sem retirada de direitos, sem influência da Reforma Trabalhista, com a garantia de que vamos negociar novamente em 2018.
A nossa luta vale a pena até para os sindicatos que não sabem o que é isso. No dia 15 de janeiro, o Everson Tardelli [presidente da Federação URBANOS-MG] esteve na Cemig para assinar um aditivo para o ACT assinado pelos outros sindicatos no dia 10 de novembro. Como se estivessem numa feira, numa banca para escolher o que querem do nosso Acordo, sem lutar, incorporaram o abono extraordinário de R$ 1.059,00 e a verba do PCR de 1,2%, mas mantiveram a quitação plena do PDV.
Por isso, é sempre bom repetir para os eletricitários das nossas e de outras bases: acordo bom, com garantia de direitos e conquistas, só é conquistado na base da luta e da resistência. Que saibamos nos unir enquanto classe, e ter coragem de lutar quando for preciso.
E com relação ao Governo do Estado, qual a avaliação que você faz do último período?
É preciso avaliar não só a Campanha de 2017, mas o ciclo do governo Pimentel desde 2015. A nossa greve daquele ano, que durou 54 dias, é o exemplo mais claro do que é a frustração da categoria eletricitária com os “descompromissos” do Governo do Estado não só com os trabalhadores (as) da Cemig, mas com o funcionalismo estadual com um todo.
Veja o exemplo recente dos profissionais da educação: alguns recebem cerca de R$ 1.200 e tiveram o 13º parcelado em quatro vezes, enquanto os coronéis da PM, que ganham mais de R$ 30 mil, receberam o pagamento em duas vezes. É muito desrespeito, inabilidade política, descompromisso com os trabalhadores e trabalhadoras para um governo só.
A uma gestão como essa não cabe uma avaliação simplória e superficial. Cabe é a atuação que temos feito, com enfrentamento, mobilização, luta e resistência. Dissemos várias vezes durante a campanha, mas é sempre bom repetir: em defesa dos nossos direitos, não recuamos frente a governo algum!