Com as contas públicas em frangalhos, o governo Michel Temer (PMDB) quer privatizar algumas empresas estatais. Nesse caso, além de recompor o caixa, o governo tem a oportunidade de passar adiante empresas ineficientes e envolvidas em grandes esquemas de corrupção.

Curiosamente, as empresas que despontam como as maiores interessadas em investir também são estatais. Da China. Principalmente quando se trata da Eletrobras, a empresa de energia, que também parece ser a que está no caminho mais avançado para a desestatização. A expectativa do governo é de mandar ainda em outubro ao Congresso a modelagem da venda das ações, que vai diminuir a participação da União no capital da empresa.

Mas faz alguma diferença a empresa de energia passar do controle estatal nacional para uma estatal chinesa?

Se a ideia é se livrar de focos de corrupção e baixa produtividade, é preciso lembrar que as companhias controladas pelo governo chinês não são conhecidas exatamente pela lisura e eficiência. Além disso, o repasse de estatais brasileiras para congêneres chinesas contraria um dos argumentos mais frequentes a favor da privatização – que empresas geridas por governos terão problemas cedo ou tarde e que por isso o melhor é vendê-las para o setor privado.

Duas empresas chinesas já têm importante participação no setor elétrico, principalmente na geração e transmissão de energia – a State Grid e a China Three Gorges (CTG). Outros grupos, menores, que também recebem aportes do governo chinês têm chances de desembarcar por aqui e aumentar o domínio da China sobre a energia brasileira.

“O governo está bastante preocupado com a sua sobrevivência e há incertezas sobre como ele vai conduzir esse processo de privatização do setor elétrico. Tudo vai depender de como será o modelo de participação privada no setor que o governo vai adotar e do ambiente regulatório do Brasil”, analisa o professor de estratégia do Insper Sandro Cabral.

Para Cabral, há que se pesar que as práticas de governança chinesas talvez não estejam alinhas com as melhores práticas do mundo, e podem até mesmo explorar a conexão entre empresa e política – algo que, como a Lava Jato mostrou, não funcionou bem no Brasil.

Cabral pondera que as estatais chinesas estão passando por um processo de profissionalização. “Tanto faz se é estatal chinesa ou outra. Caso esteja prestando um mau serviço, nosso sistema de regulação tem que ser forte o suficiente para expurgar essa empresa que não é benéfica para o público”, diz.

Mais eficiência na gestão

Para o professor Hsia Hua Sheng, coordenador de gestão financeira internacional da FGV/EAESP, esse processo de privatização serve também como reflexão do papel do estado na administração dessas empresas. Eletrobras e Petrobras sofreram nos últimos anos com escândalos de corrupção e má gestão. “O que está acontecendo no Brasil é um problema de gestão do governo, que infelizmente sucumbiu à influência política de alguns partidos na gestão dessas estatais”, avalia. (fonte: Gazeta do Povo)