Portugal passou por um processo de privatização do seu setor elétrico há seis anos e hoje especialistas debatem a gravidade dos problemas que isso causou ao país

Em Portugal,  os chineses da China Three Gorges anunciaram, nos últimos dias, a intenção de avançar com uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) para assumir o controlo da EDP (Energias de Portugal), seis anos depois da entrada no capital da elétrica.

O grupo chinês, que já detém 23,27% do capital social da empresa liderada por António Mexia, pretende que a elétrica se mantenha com identidade portuguesa, com sede e cotada em Portugal.

Caso a OPA sobre a EDP tenha sucesso, a China Three Gorges avançará com “uma oferta pública obrigatória sobre 100% do capital social da EDP Renováveis (EDPR), a 7,33 euros por ação”, um preço abaixo do valor da última cotação (7,85 euros).

Há cerca de seis anos, em 20 de fevereiro de 2012, os acionistas da EDP oficializaram a entrada da China Three Gorges no Conselho Geral e de Supervisão, em assembleia-geral extraordinária, após a privatização da elétrica portuguesa, na qual a empresa chinesa pagou cerca de 2,7 mil milhões de euros por 21,35%, tornando-se a maior acionista.

A entrada da CTG foi o ‘pontapé’ de saída para um fluxo de investimento chinês em Portugal, à ‘boleia’ de privatizações, já que o país serve de porta de entrada para a Europa e para os países de língua oficial portuguesa, isto sem falar na corrida às concessões de vistos ‘gold’.

“Nunca devia ter saído das mãos do Estado”

O antigo e histórico presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, mostrou-se contra a privatização do setor energético, frisando que “nunca devia ter saído das mãos do Estado”.

Comentando a oferta pública de aquisição (OPA) voluntária lançada na sexta-feira pela China Three Gorges sobre o capital da EDP, Alberto João Jardim disse: “Não digo nada, porque sou contra a privatização do setor energético”.

“O setor energético nunca devia ter saído das mãos do Estado”, afirmou e continuou: “o que está errado é o setor energético na mão de particulares“.

“Teve-se medo de perturbar a privatização da EDP”

Em meados do ano passado, o ex-secretário de Estado da Energia de Portugal, Henrique Gomes, considera que “teve-se medo de perturbar a privatização [da EDP]. Não se fez uma medida estrutural, importantíssima, que resolveria o equilíbrio do sistema elétrico por, quase, um prato de lentilhas”, posiciona.

Henrique Gomes também não deixa de apontar o dedo ao modo como a privatização foi feita. “No caso da energia, a preocupação era fazer dinheiro de qualquer maneira, por pouco que fosse”, diz. (fonte: SIC Notícias e Jornal de Negócios)