Os fatos dos últimos anos têm sido muito didáticos, para quem só dispunha dos fatos históricos – que parecem bem distantes – para fazer uma análise crítica da dinâmica da sociedade brasileira.

Deixando de lado a questão político-partidária, que é polêmica e ainda longe de uma visão de consenso, é preciso entender as forças que influenciam nos rumos de nosso país, pois todos nós estamos no mesmo barco.

Quem duvida que a elite de nossa sociedade, que se julga dona do nosso país (e parece que de fato é), não queira interferir, diretamente e diuturnamente, nas decisões do executivo, do legislativo e do judiciário? Será que essa elite, que é dona da maioria dos meios de produção, dona da maior parte das terras brasileiras, dona da maior parte da riqueza do país, aceita passiva-mente um sistema realmente democrático, onde um cidadão que ganha salário mínimo tem o mesmo poder de voto que um mega-empresário – onde a metade mais pobre do país possa eleger alguém que os defenda? Essa elite aceita o risco de perder seu poder e os meios que têm garantido a fonte de sua riqueza? A corrupção é um desses meios, mas ela pode acontecer não somente depois, mas antes e durante a eleição.

Vamos abrir parênteses:

Ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgou sua Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), referente a 2017, que apresenta indicadores relacionados à força de trabalho no Brasil. Segundo essa pesquisa, o grupo dos 1% de trabalhadores de melhores salários tem um rendimento médio de R$ 27.213,00 mensais, ou seja, 36 vezes acima do que recebe, em média, a metade menos remunerada da população (R$ 754,00). Outro dado: o grupo dos 10% melhor remunerados concentra 43% da renda nacional.

Os 207,6 milhões de pessoas residentes no Brasil recebem, em média, R$ 1.271,00. Deste total, só 60% possui algum tipo de renda (trabalho, aposentadoria, pensão, aluguéis, etc), recebendo R$ 2.112,00 em média. Os 13,7% dos domicílios que recebem o bolsa família têm um rendimento médio mensal de R$ 324,00. Os 3,3% dos domicílios que recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC) têm um rendimento médio mensal de R$ 696,00.

Se formos falar da distribuição do território agropecuário do Brasil (36,75% do território nacional), dados do Censo Agro, do IBGE (2006), mostram que as granjas com até dez hectares ocupam 2,7% desse território e representavam 47% do número de propriedades rurais do Brasil, enquanto as fazendas com mais de mil hectares ficam com 43% da área rural e equivalem a apenas 0,91% das propriedades. Entretanto, apesar de ter uma área menor, a agricultura familiar, empregando 75% da mão-de-obra no campo, foi a que mais produziu alimentos para o país.

Dados da pesquisa da Oxfam (g1.globo.com, em 22/01/18), que trata de riqueza e não de salários, completam essa análise, mostrando que o grupo de 1% mais rico detêm 44% da riqueza nacional. E mais: entre os 43 bilionários brasileiros, apenas os 5 mais ricos (com patrimônio entre 29 e 95 bilhões de reais) concentram mesma riqueza que a metade mais pobre do país.

Voltando ao raciocínio anterior, a elite de que nós falávamos não é o 1% da população que recebe os melhores salários ou que detém 44% da riqueza do país. Estamos falando de uma fatia de 0,1% da população, cuja quantia média ganha em um mês (cerca de 230 mil reais no mercado financeiro) equivale a 19 anos de trabalho de quem ganha um salário mínimo.

Trazemos essa análise para entender que, enquanto a grande maioria dos brasileiros só elegia para presidente do país entre os que tinham curso superior, ou que eram empresários, ou nascidos em berços de ouro, ou políticos tradicionais, a democracia era aceita pela elite, porque parecia estar sob o controle dela.

A partir do momento em que a maioria elege alguém que procure implementar políticas de distribuição de renda, as coisas mudam. Isso ocorreu em alguns momentos da história do Brasil: com Getúlio Vargas, com sua política nacionalista (criando a Petrobrás e lançando as bases da Eletrobras) e a partir de quando criou a CLT e instituiu o salário mínimo; com João Goulart, quando queria implementar as Reformas de Base (medidas econômicas e sociais de caráter nacionalista) e começar uma reforma agrária. Mas, também ocorreu recentemente, em frente aos nossos olhos!

O problema é que muitas pessoas não enxergam o jogo de bastidores da elite na política, para manter os poderes da república sob seu controle. Isso porque essa elite também é dona dos grandes meios de comunicação, e sabe tratar com maestria as versões dos fatos. Prova disso é que alguns brasileiros acreditam que a maior das nossas emissoras de TV é de esquerda, quando, na verdade, sempre foi de direita. Por conta dessa manipulação dos fatos e dados pela grande mídia, alguns entre nós, inclusive, acreditam que a privatização da Eletrobras, por exemplo, é inevitável… ou necessária… ou pior: que seria a melhor opção!

Há que se considerar, ainda, os interesses dos países dominantes, que sabem que o Brasil poderia ser uma grande potência, e não querem que ele seja uma nova China, que soube crescer com soberania.

Essa é a lógica da nossa elite brasileira – uma das elites mais retrógradas e injustas do mundo. Uma elite que está disposta a vender o patrimônio brasileiro, abrir mão da soberania nacional, acabar com a democracia, a troco de continuar sendo aquele 0,1% da população que suga grande parte da renda nacional e se sujeita a representar, aqui no nosso país, os interesses do mercado internacional e dos países dominantes. (f0nte: Stiu-DF)

Nota STIU-DF 12-04-2018