Desde 31 de agosto de 2016, quando Dilma Rousseff foi afastada do cargo de Presidente da República por um golpe de Estado, sabíamos que enfrentaríamos grandes desafios pela manutenção do nosso tecido social. Vimos direitos sociais históricos trabalhistas e previdenciários sendo dilacerados por uma agenda neoliberal com um Congresso totalmente aderente a toda trama golpista.
Nós urbanitários, enfrentamos duros anos de luta nas ruas e nas redes. As coisas só pioraram no governo Bolsonaro. Depois de algumas tentativas e muita resistência nossa, conseguiram privatizar a Eletrobras – maior empresa de energia elétrica da América Latina – em junho de 2022, a meses das eleições que nos trariam de volta um governo popular.
Com texto enviesado e sem debate durante o auge da pandemia da Covid-19, a privatização da Eletrobras foi um vale tudo, um libera geral. Um açoite ao Estado e um presente aos minoritários que arquitetaram mais um golpe: tomar a Eletrobras de assalto sem pagar um tostão. Tudo com a anuência de Bolsonaro, Guedes e Bento Albuquerque.
A privatização da Eletrobras permitia, por exemplo, que os minoritários que hoje mandam na empresa pudessem vender ativos (e o fizeram com todas as térmicas), exterminar subsidiárias como fizeram com Furnas no processo de incorporação à Holding e, pasmem, acabar como nome da própria Eletrobras, que apesar de ter nascido oficialmente em 1963, tem usinas da década de 40.
Agora chamam de Axia. Um golpe de marketing meramente moldado para brilhar em campanhas e relatórios, para simplificar um ticker de bolsa de valores. Dizem que representa valor, inovação, futuro. Mas o que reluz nem sempre ilumina. Axia é reflexo de um tempo em que o marketing substitui a missão, e a aparência sufoca a substância.Eletrobras — nome que sempre pesou como concreto e pulsou como corrente elétrica. Eletrobras sempre foi sinônimo de luz. Não apenas a que acende lâmpadas, mas a que move cidades, conecta vidas, alimenta sonhos. Exemplo de engenharia, de esforço coletivo, de Brasil em estado bruto e brilhante.
Axia, por outro lado, é o valor da farsa. Um conceito embalado por mãos que nunca giraram uma turbina, que nunca sentiram o cheiro de óleo, o calor da subestação, o silêncio ensurdecedor do turno de uma hidrelétrica em operação. É o nome que se dá ao vazio quando se quer parecer cheio. Um valor corrompido, hipócrita, sustentado por quem governa com planilhas e discursos, mas não com propósito. É tudo mercantilismo, dividendos. É o axioma do dinheiro.
Enquanto a Eletrobras sempre iluminou, Axia ofusca. Enquanto Eletrobras sempre gerou e transmitiu energia, Axia gera e transmite narrativas. E enquanto Eletrobras sempre foi verdade — sempre tentando melhorar com sua grandeza — Axia é apenas o reflexo de um tempo que prefere o brilho à luz. E já nasce narrativa e moribunda.
Podem mudar o nome, mas não vão mudar o nosso clamor por justiça, pela determinação por modicidade tarifária, transição justa e qualidade na prestação dos serviços, por condições justas de trabalho para nossos trabalhadores. A Axia – nomo de péssimo gosto – não asfixia nossos propósitos de luta. Em alguma galáxia vai sempre existir a Eletrobras que em algum momento pode voltar. Afinal, os gafanhotos sempre vão embora. Apesar da dor, resistiremos. Onde houver um urbanitário inconformado, vai sempre haver brilho nos olhos, esperança pela mudança e motivos para lutar. Pra sempre Eletrobras! Sigamos firmes, em marcha!

Fonte: FNU