Artigo: Lucas Tonaco*
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A COPASA, Companhia de Saneamento de Minas Gerais, encontra-se atualmente imersa em um preocupante processo de financeirização, que a tem transformado em mais um banco do que uma empresa dedicada ao saneamento. Essa tendência é extremamente prejudicial, comprometendo a qualidade dos serviços oferecidos e afetando diretamente a população mineira – rastros disso são até mesmo o simbolismo linguístico, onde EBITDA, CAPEX, OPEX e todo o vocábulo excessivamente financeirizado têm substituído falas como água, obras, disponibilidade, contas baixas ou mesmo trabalhadores (que é quem faz o processo acontecer).
Para evidenciar a magnitude desse processo, é importante destacar alguns dados financeiros da COPASA ao longo dos anos. Desde o início desse movimento, a empresa tem direcionado uma parcela considerável de seus recursos para operações financeiras, em detrimento dos investimentos em infraestrutura e melhorias nos serviços de saneamento, pelos últimos dados, em 2022 o lucro também subiu, de R$ 537,6 milhões em 2021 para R$ 843,4 milhões – ridículo apenas fosse, passamos então a citar além, o grotesco: os dividendos recordes. A pergunta é simples? Uma filosofia de executivos que falam no linguajar financeiro, também vão pensar em termos financeiros, e o povo que não é acionista, fica como no meio desse financismo? A resposta vem fácil: para lucros cada vez mais exorbitantes, para JCPs e dividendos cada vez mais exorbitantes é necessário, conta da água cada vez mais exorbitante.
Essa priorização das atividades financeiras em detrimento do cumprimento de sua missão social é alarmante. A população mineira é a mais prejudicada por essa filosofia empresarial inadequada, pois enfrenta problemas constantes no fornecimento de água potável e saneamento básico de qualidade. Além disso, as tarifas cobradas pela COPASA têm aumentado significativamente, pesando no orçamento das famílias, especialmente daquelas de baixa renda como citado acima, e claro, políticas sociais de adequação como tarifa social, têm sido secundarizadas na COPASA que prefere o agravamento de inadimplência das populações vulneráveis em detrimento de políticas públicas ou mesmo administrativas sequer bem desenhadas que adequam aos bolsos ou sequer sistemas de parcelamentos contínuos mais inteligentes, economizando para a empresa e para a população milhões são gastos com campanhas publicitárias onde todos os anos que se agravam como no caso das “Black Fridays” – que a COPASA chama de “Dias Azuis” mas na verdade deveria se chamar “Sempre no Vermelho” – visar o lucro próprio para rentistas ou investidores com base em inadimplência ou mesmo deixar de oferecer uma conta mais baixa pelo próprio aumento do lucro? Qual a semelhança? Tá aí evidente – essa é a prática dos bancos e também da COPASA.
Passando então aos arquitetos desse processo – e lembrando que não há entre os executivos ou conselheiros da COPASA alguém faça a sequer tal crítica como inúmeros economistas renomados têm se posicionado contra a ultraliberalização dos serviços públicos, enfatizando os perigos e prejuízos dessa abordagem, afinal, são escolhidos e recrutados por ninguém menos do que os reis do atraso com relação a pensamento em filosofia do Estado, o Partido Novo – não se trata por exemplo do professor Joseph Stiglitz, ganhador do Prêmio Nobel de Economia, que argumenta que a financeirização excessiva dos serviços essenciais coloca em risco o acesso universal e equitativo a esses serviços, favorecendo apenas os interesses financeiros em detrimento do bem-estar da sociedade ou de um Caio Prado Jr. com críticas profundas e certeiras sobre a nacionalização da questão produtiva nacional frente ao excesso de controle (até por via financeira) de interesses terceiros ou quartos, e também não se trata de Paul Krugman com críticas ao ciclos de crise que esse excesso de financismo gera mas sim, se trata, da Elite do Atraso – para parafrasear o título homônimo de Jessé de Souza – e esse atraso das elites com o excesso de perca de lastro entre capital produtivo e financeirização é sim um dos grandes promotores da crise. Lembrando que: essas políticas em termos de curto-prazismo são benéficas para geração lucros estrondosos insustentáveis em um longo prazo e o ganho de capital político com elas não é outro que não para a gestão do governador Zema, que só consegue ver a parede e nada além disso – não têm visão de longo prazo então não faz política para longo prazo – detalhe para as falas megalomaníacas em termos numéricos do governador que em fala recente bradou de ter “triplicado o tamanho de COPASA ou CEMIG”, ele só não explicou que mesmo com os movimentos se short ou long, o próprio mercado financeiro permanece cético para sua competência ou capacidade política para fazer algo como privatizações, afinal, mesmo com o movimento de bear market e com altas consideráveis nas ações, semanalmente já é possível ler em relatórios como recomendações de corretoras para a venda destas mesmas ações.
No contexto da COPASA, além dos dados financeiros, é importante mencionar os pagamentos de Juros sobre Capital Próprio (JCP) e dividendos, que têm um papel relevante nesse processo de financeirização. O direcionamento desses recursos para os acionistas, em vez de serem investidos na melhoria dos serviços de saneamento, é um exemplo claro de como JCP e dividendos podem ser prejudiciais quando priorizados em detrimento do interesse público. Ao analisarmos o histórico desses dados financeiros, podemos constatar uma tendência preocupante de descaso com o setor de saneamento e um foco excessivo nos resultados financeiros de curto prazo. A influência política também desempenha um papel fundamental nesse contexto, com interferências e interesses pessoais comprometendo a missão social da empresa – o governador que até então seria a “renovação” com indicações técnicas e meritocráticas – como se fosse um desses positivistas com alguns séculos de atraso e que descobriu a tecnocracia pré-Weber – acabou fazendo mesmo é a própria prática do qual criticava – indicando assessores tão diretamente ligados ao processo político que além de filiação, um deles inclusive é ex-deputado. E claro: sem transparência no processo de head hunters ou recrutamento, gente com um total de 0 experiência no funcionalismo, academicismo ou quiçá biografias que superam o argumento do empirismo interno de pessoal ou mesmo alguma coisa que soe como profissionalismo de carreira, lembrando as livres indicações afim de resultados financeiros e choques de administração que parecem medievos pleiteando quarteirizações ou terceirizações, assim como os banco, que virtualizando excessivamente também a uma similaridade até mesmo no fechamento ou na não expansão de agências físicas – aliás, nem os bancos têm a coragem de chamarem de “Lojas de Dinheiro” ou “Lojas de Credito”, mas na novilíngua da reinvenção da cultura de serviços públicos de Zema – que na verdade nada mais é do que um questionável simbólico ideológico desrespeitoso que mais têm haver com histórico familiar – a COPASA chama agora “Agência”, de “Loja”.
Os executivos da COPASA não podem ser isentos de críticas nesse cenário. A busca incessante por resultados financeiros imediatos, em detrimento dos investimentos necessários em infraestrutura e tecnologia, revela uma falta de comprometimento com a melhoria dos serviços de saneamento. A população mineira merece uma empresa que esteja genuinamente comprometida em fornecer água potável de qualidade, tratamento de esgoto eficiente e tarifas justas, menores e inovações no setor.
Da mesma forma, é importante destacar a responsabilidade do governador do estado e demais autoridades políticas na gestão da COPASA. A falta de fiscalização adequada, a influência política e as decisões que priorizam interesses financeiros em detrimento do interesse público são falhas graves que devem ser questionadas e corrigidas pelos orgãos responsáveis e pela sociedade civil organizada.
Se formos para falar em conclusão, o excessivo processo de financeirização da COPASA, transformando-a em mais um banco do que uma empresa de saneamento, é prejudicial para a população mineira no seu mais algo grau. A priorização das atividades financeiras em detrimento do cumprimento de sua missão social compromete a qualidade dos serviços, eleva as tarifas e coloca em risco o acesso universal ao saneamento básico, fazendo o contrário do que é proposto e colocando como vetor dos objetivos o contrário do que deveria ser o processo de saneamento, sendo então fundamental que a empresa volte a focar em seu propósito original, priorizando os interesses da população e garantindo o acesso a serviços essenciais de qualidade – só assim haverá uma ausência de contradição a ponto de entendermos que bancos são bancos e saneamento é saneamento, portanto privilegiando ao invés de pouquíssimos acionistas ou executivos, uma população inteira que bebe mesmo é água e não juros ou dividendos e que se endivida não pagando contas caras, de serviços muitas vezes pessimamente prestados e privilegiando uma lógica que vai contra até que fornece e trata tal saneamento: o trabalhador. Mas enfim, fica-se a lição de Ernest Hemingway – a de não confundirmos ação com movimento – portanto, não confundir o movimento de financeirização e sua linguagem com bons resultados ou quiçá indicativos da ação de privatização concreta mas sim essa desestatização trazida automaticamente com a financeirização, onde o povo sem esta fração popular na COPASA está mesmo sem si próprio com tais possibilidades de melhorias ou justiça social no saneamento. E ao final resumimos toda essa bancarização e financeirização da COPASA passando desse “ordenamento de um sábio Criador” de Kant – que ao contrário, é imperativo, excessivamente categórico e nada universal – e quem nem universaliza literalmente o saneamento a não ser com artificialidade – vêm se então tal mão invisível que ao deturpar as teorias smithianas controle a torneira da água que fecha cada vez mais e leva do bolso da população para poucos tal mão, mas resta nos então a lição do crítico social mais influente do século passado, velho ou jovem, Marx já escreveu que para que a mão continue invisível, os olhos estão cegos – é preciso então abrirmos os olhos da população mineira.
* Lucas Tonaco – secretário de Comunicação da FNU e dirigente do Sindágua-MG