O apagão que já dura mais de uma semana no Amapá é mais um exemplo dos problemas causados pelas privatizações no país. A advertência é do diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Júnior. Em sua coluna no Jornal Brasil Atual desta quarta-feira (11), ele alerta para o risco de que o apagão no Amapá seja extrapolado para todo o Brasil caso a Eletrobras seja vendida – como é de desejo do governo de Jair Bolsonaro.

Desde o dia 3 de novembro o Amapá, que está às escuras, vive de perto o “caos” devido a falta de manutenção de uma empresa privada à uma subestação, onde transformadores de energia pegaram fogo. Chamada de Linhas de Macapá Transmissora de Energia, ela era a única responsável por conectar o estado ao Sistema Interligado Nacional (SIN) de energia. A estrutura danificada era formada por três transformadores. Mas, apenas dois estavam em operação desde dezembro do ano passado, de acordo com o jornal O Globo.

A Linhas de Macapá pertence à companhia espanhola Isolux, que entrou entrou em recuperação judicial, e hoje se chama Gemini Energy. Ela detém 85,04% da participação na linha. Enquanto o restante pertence à Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), uma autarquia do governo federal vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). Com o incêndio, a energia de 13 dos 16 municípios do Amapá foi cortada. E ao menos 89% da população, 765 mil pessoas, é prejudicada pela interrupção que afeta ainda o fornecimento de água potável e o acesso às telecomunicações.

Pensando no lucro

“Isso nos coloca a questão do por quê o sistema de redundância não estava operando. Tudo indica que é problema de falta de manutenção e investimento. Algo que já estamos vendo em diversas empresas privadas depois dos processos de privatização. Elas acabam reduzindo os investimentos, a manutenção, deixando tudo trabalhar no limite da rede, uma vez que ela precisa garantir as taxas de retorno dos seus acionistas”, observa Fausto, comparando o caso com a mineradora Vale.

“Isso a gente já viu na discussão da Vale do Rio Doce. Com os incidentes da barragem foi que se sabia da possibilidade. Tudo indicava que havia problemas naquelas barragens. Mas, por conta de manter a taxa de lucro, os padrões do balanço, não se fez o investimento necessário. E agora estamos vendo isso no Amapá”, acrescenta.

O mais grave, contudo, na avaliação do diretor técnico do Dieese, é que na falta de respostas da empresa privada, é a companhia Eletronorte que atua para restabelecer a energia. A estatal é subsidiária da Eletrobras, o grupo cuja agenda do governo Bolsonaro prevê a privatização de forma prioritária.

O papel da Eletrobras

“Imagina o que aconteceria agora se o sistema Eletrobras estivesse privatizado?. A empresa privada sem conseguir estabelecer essa energia e não tem um sistema sistema estatal que de alguma forma possa prestar socorro nesse momento”, aponta Fausto. Para ele, “é preciso reverter e rediscutir esse modelo que basicamente acredita que temos que privatizar tudo porque o Estado é ineficiente e não dá conta”.

A empresa espanhola já tinha um histórico de maus serviços no setor elétrico. E, mesmo assim, ganhou a concessão para distribuir a energia no Amapá. Ela ainda já abandonou obras em Minas Gerais e na Bahia. E, conforme mostrou a RBA, também deu um prejuízo de U$S 476 milhões ao estado norte-americano de Indiana.

“Está provado que quando a iniciativa privada é colocada em setores estratégicos, como o elétrico, o caos pode se instalar simplesmente porque a iniciativa privada tem o compromisso elementar como o lucro dos seus acionistas”, finaliza o diretor técnico do Dieese.

Fonte: Rede Brasil Atual