Um mergulho nos números da Cedae talvez explique as razões pelas quais há enorme e obscura pressão por sua privatização. Em 2018, a principal estatal do Governo do Rio deve gerar o lucro extraordinário de 1,1 bilhão. A cifra é resultado da eficiência da governança empresarial e da imunidade tributária reconhecida recentemente pelo Supremo Tribunal Federal. A gestão administrativa da atual diretoria deve gerar um resultado de R$ 500 milhões, 80% superior ao lucro de 2017, da ordem de R$ 280 milhões. A imunidade tributária será responsável por mais R$ 600 mihões.
Embora a imprensa carioca nada publique a respeito, o êxito da atual gestão da Cedae teve reconhecimento insuspeito: a revista Exame, ao produzir a lista Melhores e Maiores de 2018, considerou a empresa a mais importante do setor infraestrutura no país, considerando-se estatais e outras companhias privadas.O prêmio leva em consideração informações como o crescimento das vendas líquidas, lucro líquido, patrimônio líquido, margem das vendas, rentabilidade, entre outros. A receita da companhia de 1,5 bilhão de dólares foi 7,5% superior ao ano anterior. Com a premiação, a companhia salta da quarta posição – registrada em 2016 – para a liderança do ranking.As companhias foram analisadas pela Fipecafi, fundação ligada à Universidade de São Paulo.

Nesta semana, a Cedae vai repassar aos acionistas, no caso o Governo do Estado que controla 99,9 das ações, R$ 20 milhões, referentes ao lucro de 2017. Este número poderia ser bem maior, não fossem dois impedimentos administrativos. O primeiro é decorrente do empréstimo de R$ 3,4 bilhões que empresa contraiu com a Caixa Econômica Federal para duplicar o Guandu e resolver, com reservatórios, adutoras e linhas, em definitivo a histórica e crônica falta de água na Baixada Fluminense.

Para liberar os recursos, a CEF exigiu em contrato que a Cedae repasse aos acionistas no máximo 25% de seu lucro. Em 2017, beirou R$ 280 milhões. Portanto, em função disto, o Governo do Rio receberia no máximo R$ 67 milhões. Ocorre, contudo, um outro problema. O Governo do Estado não paga à Cedae há vários anos pelo consumo de água de seus múltiplos órgãos e repartições. Como todo consumidor inadimplente, fez o parcelamento do débito. E somente a parcela de 2017 é da ordem de R$ 47 milhões. Restam, portanto, apenas R$ 20 milhões de lucro a receber.
No próximo ano , apurado o lucro de 2018, o Governo do Estado poderá receber até R$ 300 milhões da Cedae. O número seria correspondente a 25% do total, algo em torno de R$ 1,1 bilhão.
Por exigência do CVM, o presidente da Cedae, Jorge Briard, se recusa a confirmar os números. Analistas de mercado, contudo, já projetaram este lucro em boletins e prognósticos de circulação restrita. O enorme êxito da empresa tem passado ao largo do noticiário da imprensa carioca, que não publica uma linha sequer mostrando o sucesso da estatal.
Atualmente, a Cedae fatura cerca de R$ 4,5 bilhões por ano e é totalmente independente de recursos do Tesouro.
O maior investimento da empresa, na Baixada Fluminense, está em conclusão de sua primeira fase, cujo custo foi de cerca de R$ 1,1 bilhão. Apenas esta parte das obras já garantirá o atendimento pleno de 90 por cento dos moradores da região. A segunda fase, de duplicação da produção de água em Guandu, de cerca de R$ 1,7 bilhão está sendo licitada. A última fase com complementos em redes e reservatórios será licitada no próximo ano com custo de R$ 700 milhões.

Fonte: Ricardo Bruno- Agência do Poder