Novo levantamento indica que, até 2050, risco de tensões relacionadas à gestão de recursos hídricos pode aumentar 75%. Confira no final os planos de governo dos candidatos à presidência da República e o que pensam sobre o direito à água e ao saneamento

A demanda global por água, que deve superar o abastecimento em 40% até 2030, já é ameaça real à vida nos grandes centros urbanos. É o que cravou uma pesquisa de 2014, ao analisar as 500 maiores cidades do mundo: uma em cada quatro se encontra em situação de “estresse hídrico”, quando o abastecimento anual fica abaixo dos 1,7 mil m³ por pessoa.

Na Cidade do México, capital mexicana, 20% dos habitantes só recebe água potável algumas horas por semana. Na Cidade do Cabo, África do Sul, os banhos não podem durar mais de 90 segundos e há um limite de água que cada pessoa pode consumir – 50 litros diários. 600 milhões de pessoas sofrem com escassez na Índia, incluindo a capital, Nova Délhi. No país, 21 cidades devem esgotar seus lençóis freáticos em um período de dois anos.

Com o esgotamento das reservas hídricas pelo mundo, a gestão dos recursos passa a preocupar tanto quanto seu uso consciente. O que especialistas temem, agora, é que essa desigualdade na distribuição possa motivar conflitos diplomáticos entre os países.

“Ainda que o uso de recursos hídricos ainda não tenha, por si só, motivado guerras até hoje, problemas quanto ao uso e gestão da água podem dinamizar tensões que já existem, aumentando a instabilidade em certas regiões”, diz um artigo científico, recém-publicado na revista científica Global Environmental Change.

Como forma de identificar as áreas do globo mais propensas a ter mais tensões geopolíticas ou mesmo serem palco de conflitos decorrentes da falta de água, pesquisadores do Centro Comum de Investigação (CCI) da Comissão Europeia, elaboraram o mapa que você vê abaixo.

Para tal, os autores consideraram a história da gestão de recursos hídricos em cada região, como episódios de conflito ou cooperação para o uso de águas em áreas de fronteira.

Além disso, entraram na conta também aspectos naturais – como disponibilidade de água limpa, temperatura, precipitação, efeito estufa – e sociais/econômicos, como demanda humana por água, dependência da agricultura e tendências populacionais.

Considerando tudo isso, foi possível propor um modelo que prevê a chance de cada país ser o próximo cenário para a série Mad Max, em que água vale tanto quanto gasolina.

Na análise, ficam claras algumas relações: onde há menos água, a chance de que ocorra um problema do tipo é maior. Áreas mais populosas tendem a ter mais problemas, bem como locais que acumulam fatores de estresse ambiental.

A má notícia é que, segundo as tendências mapeadas pelo estudo, rios que já sofrem de estresse hídrico verão sua situação piorar nos próximos anos. É o que já acontece em “hotspots” como o Nilo, no norte da África, na bacia hidrográfica dos rios Ganges-Bramaputra, no Indo, rio do Paquistão, nos históricos Tigre e Eufrates e em rios do estado do Colorado, nos EUA.

O levantamento estima que o efeito combinado das mudanças climáticas e o crescimento da população pode elevar a 75% a chance de conflitos em águas transfronteiriças até 2050. Para 2100, esse aumento pode atingir a casa dos 95%.

Nem tudo, porém, está perdido, argumenta Fabio Farinosi, pesquisador que liderou o estudo, em um comunicado. “Não significa que cada um desses casos vá terminar em conflito armado. Depende do quão dispostos os países estão a cooperar”.

A análise feita pela pesquisa, afinal, não considera que os humanos, um dia, possam fazer a lição de casa. Caso consigamos dar mais atenção à gestão dos recursos hídricos, diminuir as emissões de gases de efeito estufa, por exemplo, parte desses conflitos ou tensões podem nunca passar do campo da especulação. “É nesse ponto que nossa pesquisa pode ajudar, sensibilizando sobre os riscos. Dessa forma, pode-se propor soluções com antecedência”, completa Farinosi.

Segundo estimativas da ONU de julho de 2018, temos nada além de dez anos para frear as mudanças climáticas até que os efeitos do aquecimento global, de fato, resultem em um desastre ambiental completo. Não dá para negar que o recado está mais do que dado. (fonte: Super Interessante)

CONTINUAMOS NOSSA DEFESA DA ÁGUA COMO DIREITO E NÃO MERCADORIA!

Planos de governo: Haddad vê saneamento como política pública essencial; Bolsonaro não faz menção ao setor

Confira as propostas sobre saneamento dos presidenciáveis Fernando Haddad e Jair Bolsonaro

“O Brasil precisa entender a água como direito humano e o saneamento como política pública essencial para a oferta desse direito”, afirma plano de Fernando Haddad

Em seu plano, o candidato do PT cita o saneamento já na introdução, na qual afirma que “o Brasil precisa entender a água como direito humano e o saneamento como política pública essencial para a oferta desse direito”, prometendo investir na gestão sustentável dos recursos hídricos.

O direito à água e ao saneamento volta a aparecer no quinto tópico do plano de governo, com o título “transição ecológica para a nova sociedade do século 21”.

Ele se desdobra em subitens como “promoção do direito humano à água e ao saneamento”, “viver bem na cidade” e “viver bem no campo”, todos com menções a políticas de saneamento.

Neles, faz a defesa de políticas como a retomada ou início de obras de adutoras, canais e barragens, para ampliar a infraestrutura de oferta hídrica; reuso e reciclagem da água; interrupção de processos de privatizações, por “uma governança [da água] efetivamente pública”; revitalização e despoluição de bacias e rios; retomada do apoio a estados e municípios para dar seguimento à Política de Saneamento Ambiental Integrado, com o objetivo de universalizar a cobertura de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto e tratamento de resíduos sólidos, e ampliação de iniciativas de saneamento rural.

Para Haddad, saneamento voltará a ter prioridade na agenda

“O saneamento voltará a ter prioridade na agenda, como nos 13 anos de governo Lula e Dilma Rousseff. Sob a gestão Temer, houve redução expressiva dos investimentos do PAC, em particular, das despesas com saneamento, tanto com recursos do Orçamento da União, como com a redução de novas contratações com recursos do FGTS para o setor publico e privado. A coligação O Povo Feliz de Novo reconhece o acesso universal ao saneamento como um direito fundamental e a importância do saneamento para melhorar as condições de saúde dos brasileiros. Por isso, atuará fortemente para garantir a oferta de água para todos e todas com qualidade e regularidade, em sintonia com as metas do Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS) de Água e Saneamento da ONU.

Para tal, serão retomadas as ações iniciadas nos governos do PT e adotadas novas medidas para ampliar a infraestrutura de oferta de água, com o fim de reduzir a vulnerabilidade às secas em regiões com balanço hídrico crítico. Vamos dar sequência à Política de Saneamento Ambiental Integrado para que avancemos no processo de universalização da cobertura de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto sanitário e na disposição e tratamento de resíduos sólidos.

Isso ocorrerá por meio da retomada ou início de obras de adutoras, canais e barragens, priorizando o consumo humano e a dessedentação animal. Será necessário voltar a apoiar Estados e Municípios na ampliação dos serviços e na melhoria da gestão, em especial em relação à redução de perdas de água. Além disso, será preciso aperfeiçoar a Lei de Saneamento para, entre outras questões importantes, equacionar a atuação regional e metropolitana e propiciar maior participação do setor privado. A ação conjunta entre o setor público e o privado possibilitará alcançarmos mais rapidamente a universalização desses serviços.

As iniciativas de saneamento rural serão ampliadas, priorizando o atendimento de áreas do semiárido brasileiro, da Amazônia Legal e da bacia do Rio São Francisco, com a expansão do atendimento das comunidades indígenas, de remanescentes de quilombos, de reservas extrativistas, de projetos de assentamento da reforma agrária, populações ribeirinhas e outras. Os Municípios terão apoio federal para levar adiante a gestão integrada de resíduos sólidos sob sua responsabilidade”.

JAIR BOLSONARO
Não há menção direta à ampliação do saneamento básico no programa do candidato do PSL. No tópico que trata da infraestrutura, o plano aborda principalmente o setor energético e transportes, defendendo desburocratização e privatização.

 

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