Quebrar o estado brasileiro, com o golpe de 2016 e os rombos fiscais produzidos por Michel Temer e Henrique Meirelles, pode ter sido uma estratégia deliberada para abrir caminho para uma nova rodada de privatizações selvagens.

Este é o principal destaque do Folha de S. Paulo na edição deste domingo (14/1), que fala da arrecadação de cerca de R$ 450 bilhões, se tudo for vendido, incluindo Eletrobras, Petrobras, Caixa e Banco do Brasil.

A soma representa apenas três anos dos déficits de Temer e Meirelles

O jornal fala na arrecadação de R$ 450 bilhões com a venda de todo o patrimônio do povo, mas em dois anos de golpe, 2016 e 2017, o Brasil produziu rombos fiscais de R$ 280 bilhões. Para 2018, está previsto um novo buraco de R$ 158 bilhões.

Nos governos dos presidentes Lula e Dilma, a dívida interna foi controlada de forma virtuosa. Como a economia crescia, aumentava a arrecadação de impostos e, assim, era possível equilibrar as contas públicas.

A histeria em torno da questão fiscal só reapareceu em 2015, quando Dilma lançou medidas para equilibrar o orçamento, que envolviam a volta da CPMF e uma pequena reforma previdenciária. No entanto, ela foi sabotada e, depois disso, o Brasil mergulhou no abismo.

Como o golpe travou a economia e arrombou as contas públicas, a solução apresentada por aqueles que são incapazes de gerar desenvolvimento é a mesma de sempre: privatização.

Este lobby surgiu nas páginas da Folha, em sua manchete principal: “A lista de empresas públicas com potencial para serem privatizadas é longa. Mais precisamente, são 168 estatais e 109 subsidiárias, na União e em todos os Estados. O potencial de arrecadação, por sua vez, é elevado: gira entre R$ 400 bilhões e R$ 500 bilhões”, diz o texto.

“O maior potencial de arrecadação estaria no governo federal. Tomando com base um valor de R$ 421 bilhões com as vendas, 71% estariam concentrados na União”, aponta ainda a reportagem. “Dos R$ 421 bilhões de potencial identificado, a maior fatia (47%) viria do setor financeiro, e a maior parte desse valor seria referente à venda da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil e do BNDESPar (braço de participação acionária do BNDES) —privatizações que hoje nem sequer são cogitadas e que são, no mínimo, polêmicas. Em seguida, vêm empresas dos setores de óleo e gás (15%), saneamento básico (15%), transportes (8%) e energia (5%).” (com informações; Brasil 247)

A manchete da Folha e as perguntas que nunca fazem

Para impressionar com os números, a reportagem passa “batido” por algumas perguntas que nem de longe são respondidas.

Por que empresas tão criticadas, como obsoletas, deficitárias, inúteis e com pouca ou nenhuma utilidade senão servirem de cabides de empregos – o discurso privatista o diz, não é? – valem tanto?

Não se alegue o monopólio: a maior parte do valor vem do Banco do Brasil, da Caixa e da carteira de participações do BNDES, além da Petrobras. Ao que conste, não é proibido ao capital privado abrir bancos, explorar petróleo ou refiná-lo no Brasil.

A segunda pergunta, feita no Facebook pelo meu sempre professor Nílson Lage: vender para quem? Para os grupos internacionais, interessadíssimos no nosso desenvolvimento? Porque ninguém chamado João, José ou Maria tem “bala”  para comprar, mesmo nas condições de mãe para filho que se costuma providenciar para estes negócios.

A seguinte, de meu bom amigo professor Gustavo Conde: para onde vai o dinheiro da venda? Vendemos a CSN, vendemos a Vale, vendemos as teles, vendemos até parte da Petrobras e…terminamos o governo Fernando Henrique Cardoso com uma dívida pública de mais de R$ 1 trilhão – eram R$ 88 bi, em 1994) com reservas internacionais de US$ 38 bi – 10% do que temos hoje.

Some-se a isso o fato de que, no total, as empresas públicas trazem lucros e, portanto, amenizam o déficit público.

Mas a melhor pergunta não feita é: por que uma consultoria de negócios, internacional, gasta uma fortuna em tempo e profissionais capazes – supondo que não tenha sido feita “nas coxas” – para sugerir um valor saboroso destes, em final de governo, para os privatizadores? O “Angorá” deve, a esta altura, estar louco com o cálculo de percentagens.

Como dizia o herói dos liberais, Milton Friedman, “não existe almoço grátis”. Nem uma saliva tão grande se o prato não valesse muito mais que R$ 500 bi.

Ou, numa citação mais ligada aos nosso futebol, vontade de ser como o Eurico Miranda, que vai deixar a presidência do Vasco, de vender todos os jogadores no apagar das luzes. (fonte: Tijolaço)